Pegada Hídrica – Água, como calcular? 

Pegada Hídrica – Água, como calcular? 

 

Você já mede a pegada hídrica da sua empresa? 

O conceito de "pegada hídrica" foi criado em 2002 por Arjen Hoekstra inspirado no conceito de pegada ecológica (que foi criado cerca de 10 anos antes). Mais tarde, em 2008, foi fundada a Water Footprint Network (WFN), uma rede cuja missão é promover o uso sustentável, justo e eficiente dos recursos hídricos globais através do conceito de pegada hídrica. 

Muito análogo ao GHG Protocl, que mede a pegada de carbono de uma empresa, (você pode ler mais aqui), a pegada hídrica é um indicador ambiental que corresponde ao volume de água doce utilizado ao longo de toda a cadeia de produção de um bem ou serviço. 

O manual mais completo atualmente disponível para o cálculo de pegada hídrica é o Water Footprint Assessment Manual, da WFN, que você pode encontrar o link, aqui: TheWaterFootprintAssessmentManual_English.pdf.

 

 

 

Modo geral, a pegada hídrica é composta por três elementos em função da procedência da água:

Pegada hídrica verde:  volume da água da chuva consumido durante o processo de produção. Isto é particularmente relevante para os produtos agrícolas e florestais (grãos,madeira etc.), correspondendo ao total de água da chuva que sofre evapotranspiração (dos campos e plantações) mais a água incorporada nos produtos agrícolas e florestais colhidos.

Pegada hídrica azul:  Água superficial ou subterrânea, que não retorna imediatamente para a mesma bacia. Isto é, a quantidade de água disponível que é consumida em um determinado período.

Pegada hídrica cinza: volume de água doce necessário para diluir a água poluída resultante do processo de produção até que esta atenda aos padrões estabelecidos; ou seja, é um indicador do grau de poluição da água resultante do processo.

Para empresas, assim como na mensuração de carbono, são definidos três escopos para a Pegada Hídrica. O Escopo 1 – ou consumo de água direto – diz respeito ao consumo diretamente ligado à produção; o Escopo 2 é a água associada à cadeia de suprimentos adicional para a geração da energia elétrica utilizada pela empresa; e o escopo 3 para o volume de água consumido por toda a cadeia produtiva de um bem ou serviço. 

Resumindo, em uma imagem:

Segundo a WFN, a contabilidade da pegada hídrica empresarial oferece uma nova perspectiva para o desenvolvimento de uma estratégia corporativa de água bem informada. Isso porque a pegada hídrica como indicador do uso da água difere do indicador 'retirada de água na  operações próprias do negócio utilizadas pela maioria das empresas até agora. 

Abaixo, da própria WFN:

O cálculo, em si, da pegada hídrica é bastante demandante, principalmente de bases de dados para os cálculos dos escopos 2 e 3, bem como para a pegada hídrica cinza (bases de dados que estão incorporadas nos produtos da DEEP). 

Como um exemplo, abaixo apresentamos uma tabela do WRI com fatores médios de para o Brasil de pegada hídrica escopo 2 (sendo que CONSUMO = AZUL = RETIRADA – RETORNO):

 

 

A crise global de água 

Devido à crise global de água, a mensuração da pegada hídrica é tão relevante quanto urgente. A previsão é de que em 2050 mais de 5 bilhões de pessoas possam ter acesso inadequado à água devido a fatores como eventos climáticos extremos, mudanças nos padrões do ciclo da água e  aumento populacional.

De acordo com um levantamento do MapBiomas, nos últimos 30 anos, o Brasil perdeu 15% de sua superfície hídrica, o que corresponde a quase o dobro da superfície de água de todo o Nordeste. Fatores como barragens e hidrelétricas, poluição, uso excessivo dos recursos hídricos, secas e mudanças climáticas são apontados como responsáveis por essa perda significativa.

 

Estresse hídrico 

Estresse hídrico é uma condição crítica que ocorre quando a demanda por água supera a oferta disponível ou se a má qualidade da água impede seu uso. É um problema crescente em diversas partes do mundo e dispara um sinal de alerta para problemas profundos de gestão e conservação dos recursos hídricos. Em muitas regiões, esse fenômeno é causado não apenas pela escassez natural de água, mas também pela poluição, infraestrutura inadequada e práticas insustentáveis de uso da água.

A agricultura, que consome a maior parte da água doce, é severamente impactada pelo estresse hídrico, o que afeta a produção de alimentos, podendo levar à insegurança alimentar, que é quando as pessoas não têm acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência, conforme definição da FAO, órgão da ONU para Alimentação e Agricultura). 

Além disso, a luta por recursos hídricos limitados pode levar a conflitos e forçar as populações a migrar; à perda de biodiversidade, pois os ecossistemas aquáticos sofrem quando a água se torna escassa ou poluída; e à limitação à produção industrial e ao crescimento econômico.

 

World Resources Institute (WRI)

O WRI é uma organização global de pesquisa que se concentra em seis áreas críticas para o meio ambiente e o desenvolvimento humano: clima, energia, alimentação, florestas, água e cidades. Com escritórios em mais de 50 países, incluindo Brasil, China, Índia, Indonésia, México e Estados Unidos, o WRI trabalha com governos, empresas e sociedade civil para impulsionar políticas e práticas ambientais que beneficiem as pessoas e o planeta. 

Em relação à água, o WRI ajuda empresas, comunidades e governos a compreender os riscos hídricos e a investir em soluções para um futuro com água segura. A organização colabora com governos, comunidades e empresas, produzindo dados, evidências e ferramentas para ajudar os tomadores de decisão a compreender os riscos hídricos atuais e futuros. 

De acordo com a organização, 4 bilhões de pessoas já estão expostas a condições de estresse hídrico durante pelo menos um mês por ano e 25% da população mundial vive em países que enfrentam um estresse hídrico extremamente elevado. Para proporcionar segurança hídrica para todos até 2030, 1% do PIB global seria suficiente. 

 

WRI Brasil e a infraestrutura natural para a água 

 

 

A infraestrutura natural para a água é uma abordagem promissora para garantir água de qualidade para a população, combinando a conservação da natureza com soluções inteligentes e eficientes para os setores público e privado. 

O trabalho do WRI Brasil e de outras organizações é fundamental para promover e incentivar a implementação dessa abordagem, visando ao desenvolvimento econômico e à conservação das paisagens.

Ao restaurar florestas em áreas degradadas e próximas aos reservatórios, as árvores atuam como barreiras naturais, evitando a chegada de sedimentos aos cursos d'água. Isso reduz a necessidade de produtos químicos no tratamento da água, diminui os custos de energia das estações de tratamento e prolonga a vida útil dos reservatórios.

Além dos benefícios econômicos, a infraestrutura natural também traz benefícios sociais, de biodiversidade e de conservação. Por exemplo, a conservação das áreas de vegetação nativa contribui para a proteção da biodiversidade e a restauração florestal pode gerar renda para os produtores rurais residentes nas áreas prioritárias. 

 

Aqueduct Water Risk 

Desenvolvido pelo WRI, o Aqueduct é um projeto que avalia a necessidade de água, o estresse hídrico, e os perigos de secas e inundações em diversas localidades e regiões de 189 nações (veja aqui)

O Brasil detém a maior reserva de água doce do planeta, devido aos seus rios na Amazônia e aos chamados "rios voadores", que são correntes de ar úmidas que contribuem para as chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, fundamentais para a agricultura do país. O Brasil está na 116ª posição no índice global de risco hídrico, o que indica uma situação menos crítica em comparação a outros países. Porém, ao focarmos em áreas específicas, percebemos que as crises de água são uma realidade.

Grandes cidades brasileiras já sofreram com a falta de água, como São Paulo e Rio de Janeiro entre 2014 e 2015, e o Distrito Federal entre 2017 e 2018. O Nordeste passou por um período de cinco anos de seca severa, que foi intensificado pelas mudanças climáticas.

O Aqueduct aponta essas zonas críticas. No Brasil, áreas na Bahia, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte enfrentam "níveis extremamente altos" de risco de crise hídrica, comparáveis aos de nações do Oriente Médio. As áreas metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Campinas, Ribeirão Preto e Vitória, entre outras, estão classificadas como "alto risco". 

O mapa abaixo mostra a distribuição do risco de crise hídrica no país. 

 

 

Infraestrutura Natural no Sistema Hídrico de São Paulo

A região metropolitana de São Paulo enfrentou uma crise hídrica severa entre 2014 e 2015. 

Um estudo desenvolvido pelo WRI Brasil e pelo escritório internacional do WRI, em parceria com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, The Nature Conservancy (TNC), Fundação FEMSA, União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), Instituto BioAtlântica (IBio) e Natural Capital Coalition, analisou o benefício da restauração de florestas para a melhora da qualidade da água no Sistema Hídrico de São Paulo (Sistema Cantareira) e mostrou que a restauração florestal pode ser uma boa estratégia para enfrentar crises e melhorar a qualidade da água e, ao mesmo tempo, gerar ganhos do ponto de vista econômico.

A abordagem inovadora trouxe para a infraestrutura natural os mesmos cálculos que empresas de saneamento para prever o retorno de seus investimentos em obras de infraestrutura convencional. Para fazer isso, foi considerado um horizonte de 30 anos, o mesmo usado para obras como criação de reservatórios.

O resultado foi surpreendente! Segundo o estudo, a restauração de 4 mil hectares de florestas em áreas prioritárias na bacia do Cantareira consegue reduzir em até 36% o aporte de sedimentos, como sujeira e terra, nos rios que correm para os reservatórios. Com menos sedimentos entrando nos reservatórios, a empresa de saneamento gasta menos com a limpeza da água. Não são necessárias tantas operações de dragagem nos rios, por exemplo, e a empresa pode usar uma quantidade menor de produtos químicos para tratar a água. Ao longo de trinta anos, essa redução de gastos representa uma economia de US$ 69 milhões – retorno de investimento de 28%, compatível com obras de infraestrutura tradicional do setor de abastecimento.

 

Um exemplo do Brasil para o mundo 

O reflorestamento da Floresta da Tijuca, iniciado por ordem de Dom Pedro II em 1861, é um marco histórico na conservação ambiental do Brasil. Naquela época, a floresta havia sido devastada pelo cultivo intensivo de café e cana-de-açúcar, o que levou a uma crise hídrica severa na região do Rio de Janeiro. A resposta do imperador foi declarar as florestas da Tijuca e das Paineiras como Florestas Protetoras e iniciar um processo de desapropriação de terras para promover o reflorestamento e permitir a regeneração natural da vegetação.

Nos primeiros 13 anos, mais de 100 mil árvores foram plantadas, principalmente espécies nativas da Mata Atlântica. O impacto desse reflorestamento no clima do Rio de Janeiro foi significativo. Aumentou a cobertura vegetal, o que ajudou a reduzir os deslizamentos de terra, escorregamentos e enchentes. Além disso, inibiu a expansão das comunidades em áreas de risco, reduziu os incêndios florestais e melhorou o microclima da cidade, contribuindo para a geração de renda para a camada mais carente da população. O reflorestamento também aumentou a porosidade do solo, melhorando sua capacidade de infiltração e diminuindo o impacto das chuvas sobre o solo.

Hoje, a Floresta da Tijuca é um exemplo de ações de impacto positivo duradouro no meio ambiente e na qualidade de vida das pessoas e serve de referência para programas de reflorestamento em todo o mundo.

 

Participe! 

No Dia Mundial da Água, é essencial refletirmos sobre o impacto que cada um de nós tem nos recursos hídricos do planeta. Ao entendermos e medirmos nossa pegada hídrica, podemos identificar maneiras de reduzi-la, seja através de mudanças no consumo, nos processos, nas tecnologias ou na gestão deste recurso finito e essencial para a vida na Terra. 

Quer saber mais? Quer medir a pegada hídrica da sua empresa? Então entre em contato conosco!

 

 

Search

CONHEÇA NOSSA ESCOLA ESG

COMECE AGORA SUA GESTÃO ESG

FIQUE ATUALIZADO SOBRE ESG, ASSINE NOSSA NEWSLETTER

ACOMPANHE NOSSAS REDES SOCIAIS

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

For security, use of Google's reCAPTCHA service is required which is subject to the Google Privacy Policy and Terms of Use.

Outras Notícias

whats

Preencha o formulário abaixo