O trilema energético e o desafio da realidade energética.

Larry Fink, CEO da BlackRock, escreve cartas anuais para executivos e acionistas que são amplamente seguidas como indicadores do pensamento atual da comunidade financeira sobre tópicos específicos. 

Na última carta, Fink parece tirar a ênfase do investimento ESG, que se tornou um tópico politicamente carregado, em comparação com as cartas anteriores. O termo ESG não aparece em nenhum lugar da carta. As preocupações sobre a transição energética não são levantadas até o parágrafo 18, e a palavra "clima" não aparece até a oitava página da longa carta. Mas, Fink ainda vê o risco climático como um risco de investimento, e a BlackRock não está se afastando das preocupações climáticas.

Ele discute as oportunidades de investimento associadas à transição energética, as possíveis repercussões financeiras de eventos climáticos extremos relacionados à mudança climática e a necessidade das empresas nas quais a BlackRock investe divulgarem seus riscos relacionados ao clima. 

O talvez surpreendente posicionamento de Fink reflete alguns insights trazidos pela pesquisa da DNV Energy Industry Insights*, uma das principais empresas de certificação do mundo, que indicou que a segurança energética é uma prioridade maior do que a energia limpa e acessível para as empresas em todo o mundo. 

“O trilema energético está em foco em 2023 à medida que o sistema energético enfrenta solavancos nos três aspectos. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o mundo lembrou-se da fragilidade da segurança energética; usinas de carvão estão sendo postas para funcionar enquanto projetos com energias renováveis se encontram sob pressão, ao mesmo tempo que os consumidores de energia também estão sendo pressionados por causa do preço desta,” comenta Ditlev Engel, presidente-executivo de sistemas energéticos da DNV. 

Embora a transição energética esteja acelerando, apenas 39% dos profissionais do ramo energético têm confiança de cumprir as metas de descarbonização e clima. A maioria acredita que resolver o trilema energético (fornecer energia segura, limpa e a preços acessíveis) é uma meta de longo prazo, e somente 17% acreditam que a transição fornecerá energia segura, limpa e a preços acessíveis na próxima década. 

As empresas de petróleo e gás, por exemplo, estão retardando sua transição para áreas fora dos negócios principais de hidrocarbonetos e são reservadas quanto ao seu foco em descarbonização em comparação com 2022.

A pesquisa também identificou barreiras que podem retardar a transição energética no próximo ano, incluindo problemas na cadeia de fornecimento e falta de políticas de apoio governamental.

Neste contexto desafiador, líderes da indústria de petróleo e gás, reunidos na CERAWeek da S&P Global, em Houston, este ano, concordaram que, além do trilema energético de segurança de abastecimento, transição e acessibilidade, eles também precisam enfrentar a realidade energética. Haitham Al-Ghais, secretário-geral da OPEP, afirmou que em vez de demonizar os hidrocarbonetos, deve-se concentrar em demonizar as emissões e entender que todas as formas de energia são necessárias para atender às demandas globais de uma população que deve chegar a quase 10 bilhões até 2050. "O senso de realidade, realismo e praticidade quando falamos sobre transição energética é o que eu acrescentaria a esse trilema energético.”

O Fundo Monetário Internacional estima que pelo menos US$ 4 trilhões precisam ser investidos em energia renovável anualmente até 2030, para atingir emissões líquidas zero até 2050. Mas poucos executivos de petróleo e gás da CERAWeek acreditam que essa meta seja alcançável. 

A realidade desafiadora de financiar novos projetos de hidrocarbonetos é muito sentida na África, um continente crucial para a transição energética e a demanda de combustíveis fósseis. A redução de investimentos de exploração e produção de petróleo e gás pode gerar menos eficiência, menos tecnologia aplicada e menos inovação, o que é contraproducente no contexto de transição energética. Segundo o ministro do Petróleo de Angola e alto funcionário da OPEP, José Barroso, a margem da CeraWeek – "Tudo depende dos fundos. Precisamos investir para produzir nossa produção. Estamos fazendo tudo o que podemos para compensar a queda na produção. Hoje já temos desafios suficientes para manter os índices de produção que temos hoje."

Muitas empresas têm optado por reduzir ou até mesmo encerrar por completo seus investimentos o que, apesar de demonstrar um genuíno interesse na descarbonização e maior foco na transição energética, pode gerar um efeito oposto. 

O resultado de menos investimentos é menos eficiência, menos tecnologia aplicada, menos inovação, o que é justamente o que não devemos desejar no contexto de transição.

“A questão de como podemos avançar em direção a um sistema de energia de baixo carbono está sendo reformulada à medida que adquirimos alguma experiência real nos desafios de impulsionar algumas dessas novas tecnologias, as realidades de que a acessibilidade e a segurança energética realmente importam, e então acho que a discussão está caminhando para um estado mais equilibrado", disse Mike Wirth, CEO da Chevron.

Até mesmo a secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, recuou na retórica da transição energética ao reconhecer que os combustíveis fósseis serão essenciais por muitos anos.

Apesar do impulso para a transição energética, espera-se que a demanda global por petróleo atinja o pico de 112,4 milhões de barris por dia em 2035, contra 103 milhões de barris por dia neste ano.

Alguns ativistas climáticos rejeitam a ideia de que as fontes de energia que emitem gases de efeito estufa tenham algum papel na transição para um mundo líquido zero.  Segundo eles, e voltando a carta de Fink, apesar do que a BlackRock possa dizer, apoiar o gás fóssil como parte da transição verde é categoricamente contrariado pela ciência do clima.  Trata-se de um argumento oportunista, que indica que a opinião de Fink sobre o clima não é sincera.  O futuro dirá quem tem razão.

 

*Trilemma and Transition: The moment to break barriers faz uso da pesquisa global da DNV com mais de 1300 profissionais seniores no ramo energético. É complementado por um programa com entrevistas aprofundadas com os maiores nomes do ramo energético. É desenvolvido e criado por equipes da DNV e FT Longitude (uma empresa listada na Financial Times).

 

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