Quando, há pouco mais de vinte anos, três grandes corporações afirmavam num documento que as mudanças climáticas eram motivo de preocupação e que empresas deveriam agir, o mundo corporativo não sabia ao certo como dar esse primeiro passo. A declaração, publicada no relatório Safe Climate, Sound Business, de 1998, reunia World Resources Institute (WRI), General Motors, Monsanto (atual Bayer) e British Petroleum (BP).
Num consenso, eles indicavam que, para além das ações de governos, o setor privado também poderia se comprometer a cortar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) para frear o aquecimento global – e sem deixar de crescer economicamente. Um ponto de partida também foi estabelecido: saber o quanto de poluição as empresas despejam na atmosfera era imperativo para determinar o quanto é possível reduzir e, dessa maneira, tornar-se mais sustentável.
Por conta do imenso desafio, seriam necessários alguns anos adicionais até que as primeiras normas com orientações sobre como contabilizar emissões ganhassem um padrão internacional. Surgia, nesse contexto, o Green House Gas Protocol (GHG Protocol), em parceria com WRI e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que passava a oferecer estruturas padronizadas globais para medir e gerenciar as emissões GEE de atividades dos setores público e privado, assim como ações de mitigação.
Desde então, o GHG Protocol passou a ser adotado amplamente e o número de empresas preocupadas em elaborar inventários com suas emissões aumentou. No Brasil, por exemplo, apenas 14 companhias faziam parte do Programa Brasileiro GHG Protocol em 2008. Em 2019, esse número era 153. A contabilidade dos gases, por outro lado, não está livre de problemas. O método top-down, o mais usado nesse processo, é repleto de simplificações, já que os cálculos das emissões são feitos sobre os dados consolidados das empresas. Pela falta de detalhamento, a chance de erros e o risco de greenwashing são consideráveis, apontam especialistas.
É nesse contexto de ausência de ferramentas mais precisas para mensurar o impacto do setor privado na crise climática que a DEEP foi fundada, em 2019. Criada pelo administrador de empresas e gestor tecnológico Paulo Mirada e engenheiro aeronáutico Arthur Covatti, a empresa nasceu com o intuito de oferecer uma plataforma inovadora para reportar e auditar as emissões e, dessa maneira, guiar com eficiência ações de investimentos e sustentabilidade dentro das organizações.
A medição para o inventário, feita segundo a abordagem bottom-up, ocorre em tempo real por meio de um software especialmente desenvolvido pela DEEP. “Isso seria impossível de ser feito sem o software que criamos”, comenta Covatti.
Uma das inovações está no aproveitamento do esforço que as empresas já fazem em sua contabilidade financeira para gerar dados sobre as emissões de carbono calculadas pelo software da DEEP. “A nossa abordagem bottom-up pega todos os fatos financeiros e não financeiros, cada detalhe, e a conta de emissões é feita em cima de tudo isso. Se uma compra de combustível, por exemplo, for no Brasil, é usado o fator multiplicativo (de emissões GEE) que considera a mistura de álcool, por exemplo”, detalha Covatti.
Por usar todas as informações detalhadas no sistema financeiro das empresas, nenhum detalhe é deixado de fora no inventário. “O software é capaz de mensurar todos os escopos e tem certeza de que não está esquecendo nada. Tudo o que foi consolidado no lucro líquido da empresa, naquela receita, é possível medir como foi refletido em emissões de carbono, em consumo de água e outras métricas de impacto”, explica Covatti.
Segundo o GHG Protocol, o cálculo das emissões feito para o inventário ocorre em três categorias. No chamado escopo 1, são consideradas as emissões diretas de gases de efeitos estufa provenientes de fontes que pertencem ou são controladas pela organização. O escopo 2 abrange emissões indiretas ligadas à compra de energia. Já o escopo 3 contabiliza também as emissões indiretas relacionadas às atividades da empresa, mas que ocorrem fora dela, como a cadeia de fornecedores. O relato desse terceiro escopo no inventário, porém, é opcional. “A empresa pode ser muito organizada, ter um bom controle dos escopos 1 e 2, mas o escopo 3 é muito difícil”, comenta Vítor Loures, Head de Metodologias da DEEP. Nesse ponto a DEEP também oferece um diferencial. “A gente consegue chegar bem no escopo 3 e ter uma visão da cadeia de valor. E é justamente essa que é a maior dificuldade que todas as empresas têm”, afirma Loures.
O nível de detalhamento do método DEEP é capaz ainda de comparar a eficiência ambiental entre unidades e departamentos de uma mesma empresa. O software permite que o processo de consolidação final separe as informações de cada uma das partes, explicam os fundadores. “A inteligência do software é usar todo o esforço que a empresa já colocou na sua contabilidade de rateio entre unidades e consolidar do jeito certo”,
complementa Covatti.
Com o agravamento da crise climática e a urgência do corte de emissões globais, os inventários de carbono das organizações devem se adaptar aos novos tempos. A expectativa é que grandes empresas comecem também a impor isso como parte de suas politicas de fornecedor. Essa preocupação aumenta à medida que fatores ambientais, sociais e de governança, conhecidos pela sigla ESG (Environmental, Social and Governance), são levados cada vez mais a sério por investidores em todo o mundo.
“Os próximos cinco anos serão bem transformadores. Será o tempo para ver se a preocupação ESG tem sentido, se as empresas estão de fato atuando para cortar suas emissões e serem mais sustentáveis, se isso tudo será regulado ou se será via mercado”, analisa Loures. À frente desse tempo, a DEEP já tem disponível a tecnologia para que as organizações tenham clareza de seu impacto no meio ambiente e que transformem os dados em gestão de sustentabilidade.