Guilherme Waetge, fundador da W Capital

Guilherme Waetge, fundador da W Capital 

“Buscamos empreendedores alinhados em questões socioambientais, para que possamos avançar não só com a descarbonização da empresa investida, mas também com outros temas correlatos”.

 

“Os mercados de capitais privados podem e devem ser um dos principais agentes no combate às alterações climáticas”: a partir dessa convicção e com a proposta de ser pioneira no Brasil na “descarbonização objetiva, rastreável e comprometida nas empresas”, a W Capital foi criada, em 2022. 

Em entrevista exclusiva para o blog da DEEP, Guilherme Waetge, fundador da W Capital, fala sobre sua tese de investimento, o papel das empresas e do mercado de capitais na descarbonização, tendências e planos para o futuro. 

 

  1. Como surgiu a ideia de criar a W Capital? Por que o foco em sustentabilidade e descarbonização?

 

A ideia de criar a W Capital surgiu da percepção de que grande parte das tendências de consumo que explorávamos nos nossos investimentos tem uma relação com o social, o ambiental, ou com ambos. Essa relação, ainda pouco explorada, cria uma oportunidade. O consumidor, tendo informações para distinguir entre produtos de mesma performance, mas com impactos socioambientais diferentes, provavelmente vai optar pelo de menor impacto negativo. Da mesma forma, o investidor, tendo produtos financeiros de mesma relação risco/retorno, certamente optará pelo investimento mais consciente. E esse é o nosso desafio: entregar produtos financeiros de relação retorno/risco superior e, ao mesmo tempo, gerar impacto ambiental positivo. 

Ao olharmos o mercado, entendemos que a maturidade dos conceitos de ESG já existia, mas faltava o passo adiante, o compromisso e a objetividade que nós financistas tanto gostamos. Foi assim que criamos a estratégia de descarbonização do portfólio. Fazemos o que a ONU chama de “retrofit de indústria”. Isso significa que atuamos em transformar indústrias mais tradicionais – que vão continuar existindo no futuro – em indústrias mais eficientes do ponto de vista de carbono. Algo que ainda é único no Brasil. 

É diferente de uma tese de investimentos de impacto, quando se buscam nichos ou tecnologias disruptivas que têm o potencial de transformar um segmento. Nós atuamos em basicamente qualquer segmento com potencial de crescimento que atualmente gera alguma pegada de carbono e tenha um potencial de otimização de suas emissões. 

 

  1. Quais são os critérios que vocês usam para selecionar as empresas que recebem investimentos da W Capital?

 

A base da nossa tese é o crescimento. Investimos em empresas que apresentaram grande crescimento e estão em um momento de transição, saindo de uma empresa pequena para uma companhia mais institucionalizada. Nós auxiliamos essas companhias com expertise em governança, controles e planejamento estratégico e capital para que continuem crescendo. 

Além da análise econômico-financeira, buscamos empreendedores alinhados também em questões socioambientais, para que possamos avançar não só com a descarbonização da empresa investida, mas também com outros temas correlatos.

 

  1. Você pode falar sobre o compromisso da W Capital em ser pioneira na “descarbonização objetiva, rastreável e comprometida nas empresas”? 

 

Acreditamos que a nossa atuação deve gerar valor a todos os nossos stakeholders. O valor que geramos para empresas investidas, investidores e nossos profissionais está claro. Faltava devolver algo à sociedade.

Quando decidimos gerar uma externalidade positiva, buscamos alguma forma de atuação que pudesse ser medida objetivamente, ao invés de qualquer conceito vago ou subjetivo. Dessa forma, o pioneirismo veio naturalmente, na medida que pensamos a nossa atuação de forma holística. Dado o conceito de geração de valor, buscamos identificar métricas que comprovassem tal criação de valor.

 

  1. A mensuração confiável da pegada de carbono das empresas investidas é um aspecto central deste compromisso, certo? Neste sentido, qual a sua visão sobre o trabalho desenvolvido pela DEEP? 

 

Com certeza a mensuração confiável da pegada de carbono é um aspecto central deste compromisso. Da mesma forma que contamos com assessores jurídicos, financeiros e contábeis de primeira linha, buscamos o mesmo nível de excelência para mensurar algo central na nossa proposição de valor. O trabalho desenvolvido pela DEEP é muito positivo pois garante não apenas uma informação clara e precisa e em tempo real, mas também nos auxilia na definição de metas e alternativas de mitigação. 

 

  1. A W Capital defende que o mercado de capitais deve ser um dos principais agentes no combate às mudanças climáticas. O mercado no Brasil e em outros países está avançando nesta direção? 

 

Apesar de termos assistido há anos o desenvolvimento de uma política internacional que discute cada vez mais as mudanças climáticas, historicamente políticas internacionais levam décadas para serem desenvolvidas e implementadas (quando o são). Em contraponto, o mercado tende a ser mais eficiente e dinâmico.

Nos últimos anos, temos verificado um aumento significativo da consciência ambiental ou, pelo menos, uma análise mais profunda dos riscos econômicos decorrentes da negligência ao combate às mudanças climáticas. Independentemente do motivo (ambiental ou econômico), o mercado financeiro internacional tem dado mais atenção à agenda de mudanças climáticas. E, mais recentemente, com o atraso habitual, já vemos no Brasil diversos players se movimentando nesse sentido.

Invariavelmente, como em todo ciclo macroeconômico, quando há uma demanda nova, o mercado se move para supri-la rapidamente. Nos últimos anos vimos uma criação vertiginosa de “fundos ESG”, que não necessariamente eram muito diferentes dos anteriores, exceto pela sua denominação. Nesses casos, verificamos mais uma característica do mercado financeiro. Quando há repentinos movimentos (dotados de alguma artificialidade), o mercado se ajusta. O “estouro dessa bolha” se deu também pela adoção de mecanismos contra o greenwashing e redução de novos “fundos ESG”. Assim, com o mercado ajustado, há espaço para os players que efetivamente entregam o que se comprometem. 

 

  1. Quais são os planos da W Capital para o futuro? 

 

Do ponto de vista de construção de portfólio, entendemos que ainda temos muito espaço para crescer, com diversas oportunidades para investimento e relativa baixa competição.

Quanto à nossa tese de descarbonização de portfólio, entendemos que também temos bastante espaço para ampliar a nossa atuação e, eventualmente, expandirmos o nosso foco para além do carbono. O conceito de valor gerado a todos os stakeholders já nos deixa muito satisfeitos, mas permite que tenhamos uma atuação em constante melhoria. 

 

  1. Como você vê o cenário do ESG no Brasil e no mundo? Quais são as principais tendências e oportunidades?

 

O cenário de ESG tanto no Brasil como no mundo ganhou momentum e há uma série de iniciativas para aprimorar diversas questões relacionadas ao tema. Temos participado de inúmeras discussões sobre padrões mais eficientes de reporte, padrões para a qualificação de iniciativas adequadas (ou não) de governança corporativa e socioambientais, entre outras.

Do ponto de vista de gestores de portfólio que somos, existem diversas formas de atuação e iniciativas que entregam melhorias significativas em ESG. Nosso papel (e aí está a tendência e oportunidade) é fomentar a execução de tais iniciativas e reportá-las objetivamente e sob um mesmo padrão aos nossos investidores, de forma que eles consigam identificar não apenas o retorno financeiro de seus investimentos (muito importante para nós e nossos investidores), mas também o retorno socioambiental que deverá reverberar em seus respectivos portfólios.

 

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