“Apesar de ser economista, meus interesses vão muito além de números e cenários. Gosto da pesquisa multidisciplinar, da qual a Economia é um dos elementos. Há muito tempo, me dedico a entender o funcionamento do meio ambiente e como estamos lidando com os impactos que nós mesmos geramos. O que estamos fazendo e o que podemos fazer para reduzir estes impactos e nos adaptar, tema fundamental se considerarmos que muitos danos já se tornaram perceptíveis para muitas pessoas, em diversas regiões do planeta. O que me motiva na pesquisa é pensar que a economia e o meio ambiente estão interligados, sendo parte da nossa realidade, além de definir o mundo em que nós vivemos”.
Essa é, nas suas próprias palavras, a economista, doutora, pesquisadora e consultora Thais Diniz Oliveira, personagem central do “Mulheres de Impacto” de hoje.
Relação com a DEEP
“Acompanhei o início da DEEP, em 2020, no meio da pandemia. Estava voltando da Europa, onde tinha passado seis anos fazendo o PhD e trabalhando em um primeiro projeto de pós-doutoramento. Tive uma oportunidade muito boa de colocar meus conhecimentos teóricos e empíricos à prova. Foi muito bom ver a empresa se organizando e começando a crescer e se desenvolver. Essa integração da academia com as atividades econômicas é muito importante.”
Trabalho científico, impacto e precificação de carbono
“Trabalhei por muito tempo com precificação de carbono. Tenho avaliado cientificamente os impactos econômicos e de bem-estar de políticas de mitigação de emissões. No Brasil, estamos discutindo o mercado de carbono voluntário, que envolve projetos de reflorestamento, por exemplo, implementados por empresas comprometidas e com exigências de verificação da qualidade dos créditos de carbono gerados. Porém, ainda não há regulamentação pública deste mercado.
Em muitos países, existem mercados regulados já estabelecidos, com regras e metas por setor. Trabalhei muito com isso, fiz estudos.
Estou envolvida em um trabalho sobre precificação de carbono no setor marítimo. Existe toda uma discussão dentro da Organização Internacional Marítima sobre o nosso trabalho. Quanto mais setores e mais cobertura das emissões de gases de efeito estufa tivermos, melhor. Com isso, evitaremos que as emissões de um país migrem para outro. Afinal, o planeta é um só!
Além disso, estou trabalhando agora no cálculo da pegada de carbono de produtos dos estados brasileiros pela ótica da produção e do consumo , usando matriz de insumo-produto e dados do MapBiomas e do SEEG para mapear as emissões de desmatamento, agricultura, uso de energia, entre outros. É um trabalho abrangente, que vai gerar uma visão mais completa da pegada de carbono de cada região do país.”
Sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis
“Além do estudo das políticas públicas e das iniciativas das empresas e organizações, um tema que tem me mobilizado é o da Saúde, especialmente os sistemas alimentares. Na área de mudanças climáticas, normalmente as atenções estão voltadas para os sistemas de produção. Resolvi me debruçar sobre o consumo, nosso comportamento e nossas escolhas como consumidores. Somos parte desse sistema e precisamos refletir sobre o que podemos fazer para reduzir impactos da alimentação na Saúde e no bem-estar, mas também no meio ambiente, ajudando a alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável.
Temos consumido cada vez menos alimentos saudáveis e mais ultraprocessados. Está comprovado que este comportamento leva a doenças crônicas como doenças do coração, diabetes e câncer… Os sistemas alimentares estão no centro do debate atual. O IPCC mostrou muitas evidências sobre sua contribuição para as mudanças climáticas e que estratégias e tecnologias podem ser adotadas para garantir uma produção mais sustentável e, ao mesmo tempo, estimular hábitos alimentares mais saudáveis, gerando impactos positivos para a sociedade.
Está tudo conectado! Não podemos olhar apenas para a produção, nem colocar todo o peso no consumo. É todo o sistema que precisa ser trabalhado. É justamente esse olhar do todo que me encanta.
Precisamos de esforços combinados de todos os envolvidos, de todos os setores, para avançar nas metas de mitigação e adaptação. Participo de um programa de política alimentar que tem organizações da sociedade civil e é financiado pela Bloomberg. A ideia é promover a Saúde junto com o poder público, levando materiais que são produzidos na academia para contribuir para a formulação de leis. Tem sido uma experiência muito interessante ver como o conhecimento científico pode ser útil para a sociedade e transformar a sua realidade. É muito ruim quando o conhecimento fica guardado. ”
Próximos passos
“Em julho, estou indo para o meu terceiro pós-doutorado, agora nos Estados Unidos, para trabalhar na Cornell University. Vou contribuir com o segundo relatório da EAT-Lancet sobre sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis.
Faremos uma análise de estratégias para promover um sistema alimentar global e local mais saudável e sustentável sobre diferentes perspectivas e considerando impactos sociais, na saúde e meio ambiente.
Tenho cada vez mais me motivado a tornar o conhecimento científico mais efetivo na transformação das políticas e criação de estratégias e medidas concretas para a sociedade.
Precisamos considerar também a justiça climática – quem são os mais expostos, os mais impactados e quais as regiões e populações que já estão sentindo mais fortemente os efeitos das mudanças climáticas.
É fundamental movermos a sociedade na direção de uma economia mais justa, de baixo carbono, inclusiva. Ainda falta um longo caminho e precisamos de medidas concretas. O custo da inação vai ser cada vez maior!”