Parceiros DEEP: Luiz Egreja, Dassault Systèmes

Em novembro do ano passado, a Dassault Systèmes e a DEEP anunciaram uma parceria estratégica para impulsionar a sustentabilidade e a inovação das empresas no Brasil. O acordo ajuda a prover aos clientes comuns às duas empresas informações sobre a extensão dos impactos socioambientais de seus negócios, aliando a disponibilidade de relatórios com indicadores práticos e soluções para o desenho, simulação, implementação e avaliação de processos industriais preparados para atender às melhores práticas da agenda ESG. 

Na semana passada, a DEEP participou do “Leadership Meeting”, evento organizado pela Dassault Systèmes, que reuniu lideranças de diversos segmentos da indústria. 

Durante o evento, Luiz Roberto Egreja, responsável pelo planejamento e execução da estratégia de soluções de Manufatura para a América Latina da Dassault, falou com exclusividade para a equipe do blog da DEEP. 

Qual é a importância de eventos como o “Leadership Meeting” para a Dassault e para a indústria? 

Temos realizado eventos como esse, com um número relativamente pequeno de empresas para levar uma visão sobre o que está acontecendo no mundo e como podemos ajudar as empresas a lidar com os desafios e também com as oportunidades. São eventos muito focados por segmentos, indústrias ou temas específicos, sempre procurando atingir as lideranças das empresas para passar uma mensagem mais estratégica. 

Acreditamos que, sem o convencimento das lideranças, é muito difícil engajar as empresas na implementação das soluções transformacionais que nós oferecemos. Nosso foco é promover a inovação sustentável dos nossos clientes para permitir que, através da nossa tecnologia, das nossas soluções, eles possam usar universos virtuais para simular produtos, processos, a cadeia inteira de valor, e tomar melhores decisões sobre produtos, processos, como vai ser definida a cadeia de valor, os modelos de negócio… 

Quais foram os temas centrais do evento? 

Procuramos tratar de dois temas que nós consideramos muito relevantes: inovação e sustentabilidade. Acreditamos que são questões interconectadas. Hoje, não é possível ser sustentável sem ser inovador. Se uma empresa tentar ser sustentável sem ser inovadora, muito provavelmente vai acabar caindo no paradigma negativo de ver a sustentabilidade como um custo adicional, o que pode prejudicar o negócio ao invés de ajudar.  

O modelo que nós temos visto desde o início das revoluções industriais está exaurindo os recursos, de uma forma que não vamos conseguir repor. É preciso repensar nossas ideias, nossos conceitos. Em uma palestra em São Paulo, ouvi algo muito interessante: todo mundo fala do problema da população mundial, que superou agora 8 bilhões de pessoas. Se cada um ocupasse um metro quadrado, todas as pessoas do mundo caberiam em uma área como a do Distrito Federal. Ou seja: a questão não é a quantidade de pessoas ou o espaço físico. O que importa realmente é a quantidade de recursos que cada um explora. Se não mudarmos o modelo, entregaremos, pela primeira vez em muitas gerações, um planeta pior para os nossos filhos do que o que recebemos dos nossos pais. Essa é uma responsabilidade que eu não quero carregar! 

É preciso que as empresas mudem seu modelo de negócios de uma forma radical. Chegamos até aqui com boa parte das empresas acreditando que o indicador mais importante é o valor da ação e que tudo deve ser feito para maximizar este valor. Isso leva a um modelo extremamente predatório. 

Qual é a sua visão sobre o avanço da agenda de Sustentabilidade/ESG nas empresas? 

Sustentabilidade é um tema que sem dúvida está na agenda das lideranças. Ser sustentável não significa que não é mais necessário controlar custos, ter qualidade, ser rápido na entrega. Tudo continua a ser importante. Por isso, é tão importante transformar os processos. Acredito que a mudança realmente começa a acontecer quando é melhor e mais barato fazer do que deixar de fazer. ESG precisa chegar a esse ponto. Houve uma época em que se discutia se qualidade era um custo ou uma oportunidade de gerar um produto de qualidade. Virou mandatório. Agora, estamos vivendo um momento em que ainda tem quem ache que ESG é uma opção, uma escolha sobre fazer ou não. 

Existe uma necessidade urgente de mudança, que envolve os governos, as pessoas e, acima de tudo, as empresas, que têm uma responsabilidade muito grande pelo tamanho do impacto que causam. Precisamos mudar a mentalidade das lideranças para que elas mudem a direção das empresas.

Pelas previsões mais recentes dos cientistas, estamos atrasados! O ano de 2050 é depois de amanhã; 2030 é amanhã! A distância para 2050 é mais ou menos a mesma que da virada do milênio até hoje. A verdade é que 25 anos não é nada! Mas é o tempo que em teoria nós temos. O tempo para agir é agora! Isso é uma crença da Dassault!

E sobre a parceria com a DEEP? 

A DEEP é uma parceira global da Dassault na área de sustentabilidade. Acreditamos muito nas parcerias, porque não consideramos possível resolver problemas complexos sozinhos. É fundamental ter um ecossistema de parceiros para inovar. Quanto mais desafiante for o problema, mais necessários são os parceiros. Quando o tema é sustentabilidade, estamos falando só de enfrentar a crise climática e combater a desigualdade social no mundo. Tudo menos uma tarefa fácil! 

Temos com a DEEP uma relação de confiança e cooperação, aproveitando as nossas complementaridades. Existe uma oportunidade muito boa. Quem abraçar e correr riscos, vai sair na frente. 

Em uma entrevista para a série Mulheres de Impacto, Flávia Bittencourt citou que de 70% a 80% dos impactos de um produto são definidos num projeto. Qual é a visão da Dassault sobre esse ponto? 

Foi exatamente esse ponto que a Florence (Verzelen), nossa VP de Marketing e Sustentabilidade, abordou. Trabalhar para mitigar o impacto depois que o produto ou o serviço depois que ele já foi criado limita a atuação a 20% do todo. Começar do início, com a preocupação de conceber um produto para que seja sustentável nos dá a oportunidade de trabalhar nos outros 80%. É claro que não é possível evitar todo e qualquer impacto. A questão é trazê-lo a um nível que seja suportável. 

Eu não trabalho na área de sustentabilidade, trabalho em soluções para manufatura. A Dassault tem uma mentalidade que faz com que quase todo mundo tenha alguma responsabilidade, alguma ação diretamente ligada à sustentabilidade. No ano passado, 10% de toda a força de trabalho da Dassault passaram por treinamentos em sustentabilidade. Não vai haver transformação que faça sentido se a pauta ESG não estiver incluída.

As perspectivas para o futuro são positivas? 

O que me deixa animado é que as lideranças estão trazendo mensagens claras de que enxergam o valor da inovação e da sustentabilidade. Por outro lado, percebo que essa mensagem ainda não está chegando de uma forma adequada à média gerência. As decisões do dia a dia ainda estão distantes das intenções. Não me lembro de projetos recentes que tenham sido direcionados pelos indicadores ESG. Essa agenda ainda não está totalmente conectada à estratégia corporativa, à visão das lideranças e às ações do dia a dia, da média gerência. 

Não temos tempo para ficar apenas no plano dos debates, estabelecendo metas de redução de uso de recursos. Se continuarmos fazendo as mesmas coisas, teremos uma mudança incremental, não transformacional. Melhorar a fonte de energia, reduzir o consumo de água… Isso tudo é importante, mas não suficiente. Com uma matriz energética limpa e todos os recursos naturais disponíveis, a base industrial brasileira tem um grande potencial de se reposicionar no mercado internacional. Não é fácil, mas é possível. 

Estamos nos propondo a enfrentar desafios muito grandes, muito impactantes. Costumo dizer que para todo grande problema, sempre tem uma solução simples, que geralmente está errada. A solução é complexa e é preciso arregaçar a manga e buscar todo apoio possível para chegar lá. 

 

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