Um alerta emitido pela Organização das Nações Unidas (ONU), em junho, dá conta de que cerca de 130 países estão sob ameaça, em futuro próximo, de enfrentamento da maior seca do século e outros 23 sofrerão com a falta de água relacionada ao crescimento populacional. A ONU aponta que 1,5 bilhão de pessoas já foram afetadas por problemas de escassez de água em todo o mundo, causando um prejuízo econômico de US$124 bilhões. (Rede Brasil do Pacto Global)
O alerta serve para que empresas e organizações do setor produtivo ou de serviços se posicionem frente aos consumidores e investidores, em relação à sua pegada hídrica.
Nos últimos anos, consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas e impactos socioambientais das empresas e organizações. Mas como medir de forma acurada os impactos mais relevantes na vida das empresas?
Para alcançar nível ótimo de métrica e transparência, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) propôs, em 2005, diretrizes e recomendações sobre a inclusão de questões ambientais, sociais e de governança na gestão de empresas e organizações. Estabelecem-se, ali, os princípios de ESG – Ambiental, Social e Governança, na sigla em inglês (Environment, Social and Governance). Entre os parâmetros propostos no pilar ambiental, se insere o uso da água.
Neste caso específico, um dos indicadores é a pegada hídrica, ou seja, quantos metros cúbicos de água são necessários para determinada unidade de produto, seja metro linear de tecido, ou tonelada de carne, por exemplo.
O conselheiro Weber Amaral, da DEEP, PhD e M.A em Políticas Públicas Ambientais e Professor na USP, explica que “a água, um ativo cada vez mais escasso, é um indicador super relevante a ser medido”.
“É importante ser entendida e quantificada a pegada hídrica de cada produto, de cada serviço. O ideal para a redução dos impactos seria desenhar produtos e serviços a partir das medidas, com o olhar para as reduções do consumo de água. Há que ter alternativas de produzir determinado produto de forma que ele consuma menor quantidade de água”, avalia o conselheiro.
Quanto à mitigação de impactos, Amaral acredita que é possível, se houver a redução dos poluentes da água resultante do processo industrial, através da utilização de filtros, tecnologias e soluções para que a água do processo não se perca (com ciclos fechados no sistema de produção) e seja feito o reuso, ao máximo, da água nos sistemas de produção.
ESG e ODS 6 – a contribuição das empresas
A valorização de ativos de empresas e organizações pela prática de ESG passam pela contribuição para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), acordados no âmbito da ONU em 2015 e em vigor desde 2016, e que abrangem temas como consumo sustentável, mudanças climáticas, desigualdade econômica, inovação, diversidade, paz e justiça. São 17 Objetivos, entre os quais o ODS 6 e seus subitens, que tratam especificamente de água: “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento a todos e todas”.
O diretor-executivo do Pacto Global da ONU-Rede Brasil, Carlo Pereira, acredita que uma empresa que está em conformidade com práticas ESG entende quais são seus impactos negativos e positivos na sociedade e consegue agir sobre eles. “É necessário minimizar os negativos e potencializar os positivos, assim como equacionar os prejuízos já provocados”, lembra.
O Pacto Global é umainiciativa da ONU com o objetivo de engajar empresas e organizações na adoção de dez princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.
“Considerando um clima em mudança, investir em ESG e na gestão de riscos, incluindo questões ambientais e sociais relacionadas à água, é essencial para garantir a longevidade dos negócios. Em um cenário de crise hídrica e energética, as empresas que já trabalham com questões ESG/sustentabilidade empresarial relacionadas à água possuem vantagem, pois ampliam a competitividade do setor empresarial no mercado interno e no exterior, reduzem custos, melhoram a reputação, reduzem riscos e trazem maior resiliência frente às incertezas do nosso tempo”, avalia o diretor-executivo.
Para Carlo, a empresa contribui para o ODS 6 implementando estratégias de gestão de água que sejam socialmente equitativas, ambientalmente sustentáveis e economicamente benéficas nas bacias hidrográficas em que suas operações possuem influência e de sua cadeia de suprimentos.
Percepção dos investidores individuais
Afora os fundos de investimento ESG hoje existentes, e que movimentam trilhões de dólares em ações, investimentos diretos e fundos de fundos, existem os investidores mais locais que se importam com a sustentabilidade das empresas na hora de investir e isso faz com que empresas tenham que avaliar a questão ambiental dentro das suas estratégias e produtos.
“Os investidores deveriam levar sustentabilidade em conta na hora de escolher uma empresa para investir, porque se ele escolher uma empresa que não incorpora isto em suas estratégias, a tendência é que comece a perder receita na medida em que a concorrência adote aquelas estratégias, e a empresa perceba uma perda no seu nicho de clientes. Isto tudo vai da percepção que os investidores precisam fazer investimentos mais responsáveis, o que tem se mostrado uma tendência”, avalia Arthur Covatti, CEO da DEEP.