Mulheres de Impacto – Linda Murasawa

Sustentabilidade também é oportunidade

Sócia-diretora da Fractal Assessoria e Desenvolvimento de Negócios, Linda Murasawa é consultora estratégica de empresas que buscam orientação sobre como inserir a sustentabilidade nos modelos de negócios, com o olhar em questões financeiras, riscos e oportunidades para o mundo corporativo.

Linda usa sua vasta experiência nacional e internacional para enfrentar o desafio de transformar os negócios que promoverão a economia de baixo carbono e o desenvolvimento sustentável. Inovadora e focada em promover o desenvolvimento sustentável, reúne um conjunto de habilidades e de perspectivas bastante visionárias.

“O planeta com aquecimento vai seguir seu curso no universo; quem vai ficar pelo caminho somos nós, espécie humana. Temos que agir”, alerta.

Linda cursou o Instituto Técnico de Aeronáutica (ITA), o Instituto Mauá de Tecnologia, Insper e Cambridge University . Tem também uma longa lista de especializações: Sustainable Finance, Green Finance, Climate Finance, Corporate Sustainability, Financial and Social Inclusive Business, Responsible Investment, Equities Research e Carbon Market.

Antes da Fractal, acumulou experiência no Villares/Hitachi, IBM, Banco ABN AMRO Real e Banco Santander.

Nesta entrevista exclusiva, Linda fala do atual estágio de engajamento das empresas com a agenda ESG, dos desafios e da atuação como conselheira da DEEP.

Vamos começar pela sua trajetória em sustentabilidade?

Em 2001, Míriam Magalhães me chamou para trabalhar no ABN AMRO Real. Era para a área de Produtos, e logo foi me apresentada a oportunidade de trabalhar com Sustentabilidade nos negócios em 2002 e, pelo meu perfil, o tema me atraiu e aceitei prontamente. O desafio foi grande, pois foi necessário entender, conhecer, estruturar para que se fortalecesse o conceito de financiamentos socioambientais, cuja necessidade era de prazos mais alongados, em um momento em que o Brasil não era “investment grade”, e a busca de recursos foi um dos desafios.  

E quando a sustentabilidade começou de fato?

Fábio Barbosa, presidente do Banco ABN AMRO Real, já tinha começado com a Responsabilidade Social em 2000. Em 2002, assumiu o desafio de introduzir o tema nos negócios. O pensamento do presidente se alinhava muito com meus valores, o que fez com que eu entrasse para a área de Financiamentos Socioambientais.

Foi necessário estruturar produtos, identificar mercado, analisar riscos, ter recursos… Conversei com muitas pessoas especializadas para buscar oportunidades e ter base técnica. Depois de identificar muitas barreiras, tinha a perspectiva arriscada: “Por que não buscar recursos no exterior?”. A busca de funding se iniciou em final de 2003, após a autorização dos altos executivos.

E o que houve depois do “ok”?

Além do esforço e da dedicação, temos que contar também com a sorte. Fui ao Banco Mundial, mais especificamente ao IFC (International Finance Corporation), onde encontrei as pessoas certas, na ocasião propícia. Depois de nove meses de negociação, chegamos a um acordo, recebendo recursos que teriam prazos de até dez anos. A partir daí, os financiamentos de projetos socioambientais foram crescendo.

E a passagem do ABN AMRO Real para o Santander?

Foi em 2008. O Santander comprou o ABN AMRO Real e eu tive que estabelecer um processo de convencimento de que os negócios sustentáveis eram viáveis. No fim, houve a valorização e reconhecimento, e isso foi expandido para a sede, na Espanha; em seguida, o modelo foi ajustado e replicado para o restante das unidades mundo afora, e o Brasil foi a referência no tema.

E qual era a sua função nessa época?

Era responsável pelos financiamentos socioambientais, que foi incorporado a uma nova diretoria de Sustentabilidade. Depois, acabei assumindo a área de Sustentabilidade, onde abarcava as áreas de Investimento Social Privado, Mudanças Climáticas, Financiamentos, Funding, Capacitação, suporte a Relações com Investidores e Governança de Sustentabilidade, com o olhar para as 15 empresas do grupo no país, e transformando os riscos em oportunidades. Foi muito trabalho, mas extremamente gratificante.

E quando saiu do Santander?

Foi em 2017. Um momento em que senti a necessidade de outro viés no meu trabalho. Foi após a saída do banco que percebi que havia todo um nicho de mercado para trabalhar. Apoiar empresas que não têm a estrutura dos bancos passou a ser o meu foco. Comecei então a orientar as empresas a fazer captações de recursos associados a projetos ESG e, ao mesmo tempo, capacitar sua equipe para uma nova cultura.

E como surgiu a DEEP?

O Arthur Covatti me convidou para pedir uma análise de um projeto. Ele estava eufórico com a possibilidade de trabalhar com questões sociais e entender como avançar na sustentabilidade. Queria trabalhar em algo que tivesse propósito, que fizesse diferença no mundo. Me apresentou outros membros do projeto e fiquei empolgada com a mentalidade da equipe. Foi revigorante.

E como vê a situação das empresas atualmente em relação a ESG?

As empresas, em grande parte, já perceberam que as mudanças climáticas são o risco mais evidente que temos pela frente, e consequentemente, os aspectos sociais também são muito urgentes. Quando começaram a acontecer as catástrofes, muitos tentaram ignorar ou minimizar, mesmo tendo sido alertados pelos cientistas que analisaram e reportaram nas conferências da ONU À medida que as projeções se cumpriam, ano a ano, começou a ficar mais claro o que teríamos que enfrentar e agir de forma mais rápida e estruturada. As empresas, os países e a sociedade começaram a prestar atenção ao assunto, já que empresários e políticos começaram a internalizar o tema e externalizando a partir de adesão a Agendas, Princípios e estabelecendo compromissos com ESG e Clima. Precisamos acelerar nas ações de combate às mudanças climáticas, fazendo com que haja redução dos impactos ambientais e sociais, para que possamos mitigar, diminuir os impactos negativos previstos nas projeções para 2030, 2040 e 2050.

O que precisamos avançar?

Sabendo que onde o capital é direcionado adequadamente, temos  o desenvolvimento,  precisamos de recursos e também desenvolver políticas públicas e de conscientização da população. Outro ponto é a questão das mensurações, pois as empresas ainda apresentam muitas dúvidas quanto ao impacto que produzem no meio ambiente, como mensurá-lo e reduzi-lo. É o momento de buscar inovação, incentivar a pesquisa e com as tecnologias avançando, capital humano, colaboração, podemos ter uma expectativa de um mundo melhor. Sempre haverá desafios, mas acredito que o ser humano é capaz de criar soluções!

 

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