Desafios e inovações na mensuração de emissões no setor de saneamento

Entrevista exclusiva com Bruno Garcia

Especialista em Processos de Esgoto da Iguá Saneamento, Bruno Garcia compartilhou insights valiosos sobre os desafios e avanços na mensuração de emissões de gases de efeito estufa no setor de saneamento. Com formação em engenharia ambiental e vasta experiência acadêmica e profissional, Bruno falou sobre os esforços de todo o setor para desenvolver metodologias mais precisas e relevantes para o contexto brasileiro.

Bruno iniciou sua carreira ainda na graduação, trabalhando em projetos de saneamento em assentamentos rurais. Sua paixão pelo tema o levou a realizar intercâmbio no exterior, focando na produção de biogás e hidrogênio a partir de resíduos da produção de álcool. Seu mestrado e doutorado se concentraram no tratamento de esgoto, com ênfase em tecnologias adequadas à realidade brasileira.

“Minha pesquisa sempre foi muito aplicada para a realidade brasileira, para resolver os problemas do saneamento brasileiro”, explicou.

Como teve início seu envolvimento com a mensuração de gases de efeito estufa?

Bruno: Entrei nessa área há três anos, quando começamos a fazer os inventários na Iguá. O desafio era ajudar a desenvolver a metodologia de cálculo. No início, usamos a ferramenta do GHG Protocol, que é muito boa, mas para o setor de saneamento, especificamente na parte de efluentes, não era suficiente. 

Quais foram os principais desafios encontrados na metodologia inicial?

Bruno:  A metodologia era bem simplificada, baseada no IPCC. Quando começamos a discutir redução de emissões, percebi que precisávamos de uma metodologia mais robusta. Não é simplesmente para ter um valor final no inventário, mas para tomar decisões práticas. Se não tivermos uma metodologia adequada, corremos o risco de tomar decisões que reduzem o número no papel, mas na prática não têm impacto real nas emissões, ou vice-versa.

Como vocês abordaram esses desafios?

Bruno:  Surgiu a ideia de fazer um grupo setorial de trabalho com a Sanepar, COPASA e Iguá. Escrevemos um artigo, publicado no congresso da ABES, que foi uma primeira revisão dessa metodologia. Esse trabalho foi paralelo à contratação da DEEP na Iguá. Quando a DEEP veio automatizar nossos processos de contabilização do inventário, já começamos a pensar numa forma de contemplar essa nova metodologia, deixando flexibilidade para atualizações futuras.

Por que é tão importante ter uma metodologia específica para o setor de saneamento?

Bruno:  No setor de saneamento, principalmente na parte de efluentes, temos muitas especificidades. Por exemplo, o IPCC fornece apenas três opções de coeficiente de geração de metano, mas nossa realidade é muito mais complexa. Temos processos de tratamento que combinam diferentes tecnologias, e a metodologia simplificada não contempla essas nuances. Isso pode levar a interpretações equivocadas, como a ideia de que tratar esgoto é pior para os gases de efeito estufa, o que está longe de ser uma verdade.

Como a metodologia que vocês desenvolveram difere da tradicional?

Bruno:  Nós destrinchamos mais os processos, considerando as etapas sequenciais do tratamento e as especificidades de cada tecnologia. Por exemplo, falando de uma forma que talvez só quem é da área entenda, uma lagoa aerada de mistura completa seguida por lagoa de decantação tem características diferentes de um tratamento aeróbio centralizado ou de uma lagoa anaeróbia simples. Nossa metodologia busca refletir essas diferenças e permite uma análise mais precisa das emissões em cada etapa do processo.

Qual a importância da precisão desses dados para a gestão da empresa?

Bruno:  É crucial! O gestor vai tomar decisões com base nos números que enviamos. É nosso dever, como área técnica, garantir que os números traduzam de fato o que a técnica e o conhecimento científico entendem como o modelo correto. Se mandarmos números imprecisos, podemos levar a decisões equivocadas que não terão o impacto desejado na redução real das emissões.

Como você vê a importância da colaboração entre empresas do setor nesse processo?

Bruno:  É fundamental. Não daria para fazer isso sozinho. Precisamos de um consenso no setor para estabelecer regras claras, que sejam iguais para todos. Isso é importante não só para as empresas de saneamento, mas para todo o ecossistema, incluindo fornecedores de tecnologia. Queremos avançar para que nos próximos passos tenhamos não só empresas, mas também a academia, reguladores e outros parceiros participando, para que seja realmente algo padronizado e consensual.

Quais são os próximos desafios na mensuração de emissões no setor de saneamento?

Bruno:  Vejo dois grandes desafios: continuar aprimorando a metodologia e aumentar a granularidade dos dados. Queremos conseguir filtrar por instalação as emissões de todos os escopos. Também precisamos avançar em questões como a qualificação do lodo e a avaliação das emissões nos corpos receptores. Outro desafio é equilibrar a complexidade da metodologia com a praticidade de aplicação em larga escala.

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