Calculando o Risco Climático Físico

Por Gleice Rodrigues* 

Com o aumento das preocupações globais em relação às mudanças climáticas, as instituições financeiras, empresas e governos estão cada vez mais interessados em calcular e mitigar os riscos climáticos. 

Segundo o TCFD (2023), esses riscos climáticos podem ser divididos em dois tipos: riscos físicos e riscos de transição. Enquanto os riscos físicos se focam nas alterações físicas do clima resultantes das emissões de GEE, que incluem eventos climáticos extremos como secas, inundações, e deslizamentos, os riscos de transição consideram também as consequências socioeconômicas e políticas da mudança para uma economia de baixo carbono.

Identificando riscos e cenários

O risco climático físico é composto por três elementos: ameaça climática, vulnerabilidade e exposição (IPCC, 2022):

Ameaça Climática: refere-se à possibilidade de ocorrência de um evento natural ou provocado pelo homem que pode resultar em perda de vidas, ferimentos, danos à saúde, propriedade, infraestrutura, meios de subsistência, serviços prestados, ecossistemas e recursos ambientais.  

Vulnerabilidade: refere-se à propensão ou predisposição a ser afetado de forma adversa. Este conceito abrange diversos elementos, como sensibilidade ou susceptibilidade a danos, bem como a falta de capacidade para lidar e adaptar-se aos efeitos adversos da mudança climática.

Exposição: existência de pessoas, meios de subsistência, espécies ou ecossistemas, funções, serviços e recursos ambientais, infraestrutura, ou bens econômicos, sociais ou culturais, em locais e configurações que podem ser prejudicados pela mudança climática.

O primeiro passo para o cálculo de um risco físico é identificar e mapear aqueles aos quais a organização está exposta. Essa etapa de triagem dos riscos é muito importante porque permite às organizações priorizarem e concentrarem seus esforços nos riscos mais relevantes e impactantes. Isso proporciona uma gestão mais eficiente de recursos e estratégias, direcionando atenção para os riscos que têm maior probabilidade de ocorrer ou que podem ter consequências mais severas. 

No setor agrícola, por exemplo, uma seca prolongada pode reduzir drasticamente a produção de colheitas, levando a perdas financeiras substanciais e escassez de alimentos. 

Já no setor financeiro, o mesmo evento pode resultar em um aumento no número de inadimplências de empréstimos agrícolas e uma queda nos investimentos relacionados ao setor, sem causar um impacto direto na produção física.

Após a definição dos riscos a serem avaliados, a próxima etapa é a identificação dos cenários que serão avaliados para a construção dos indicadores dos componentes de risco. As Rotas de Concentração Representativas (RCP, do inglês Representative Concentration Pathways) são cenários utilizados para projetar futuras concentrações de gases de efeito estufa. 

Esses cenários referem-se ao nível aproximado de forçamento radiativo (em watts por metro quadrado, ou W/m²) resultante do cenário no ano de 2100 (IPCC, 2014). Assim, as projeções climáticas futuras, derivadas de modelos climáticos, consideram esses cenários de emissões para realizar as simulações. 

É importante ressaltar que as projeções climáticas futuras envolvem incertezas inerentes ao uso de modelos, os quais, embora exijam prudência na interpretação de dados e informações, fazem parte, juntamente com outros elementos, do conjunto de fatores que impulsionam os pesquisadores em sua constante busca pelo aprimoramento de seu instrumental técnico-científico.

Construindo indicadores

Para avaliar o risco de impacto climático, é comum empregar um sistema de índices e indicadores organizados em uma pirâmide de informações. Esses indicadores e índices são utilizados para compreender distintos aspectos do risco de impacto climático de maneira estruturada e abrangente. 

Vale ressaltar que para desenvolver os indicadores e índices, envolve uma variedade de ferramentas, incluindo bases de dados públicas, revisão de artigos científicos, utilização de sistemas de informações geográficas, análise estatística e a colaboração de especialistas. 

Inicialmente, é necessário entender quais indicadores devem ser considerados para formar um indicador temático que compreenda os três aspectos do risco, ou seja, ameaça climática, vulnerabilidade e exposição. 

A partir do momento que uma variável é selecionada para compor o indicador, ela não poderá permanecer em sua unidade original, mas passa por um processo de tratamento (como o de outliers, por exemplo), normalização e padronização para que, quando adicionada a outra variável, estas possam ser comparáveis. 

Essa abordagem possibilita uma avaliação detalhada dos diferentes fatores estressores, incluindo condições físico-climáticas e socioeconômicas.

Os riscos climáticos são construídos a partir da interação desses indicadores, que podem considerar como objeto de estudo a localização das unidades operacionais da organização ou o setor ao qual essa organização pertence. 

Uma vez calculado, o índice de risco pode nos informar a probabilidade de determinado evento climático ocorrer com danos e perdas para uma determinada estrutura, seja ela uma comunidade, um município ou uma setor. 

A classificação estruturada que compõe o risco permite às organizações uma análise detalhada de suas exposições, facilitando a priorização de estratégias de adaptação e mitigação adequadas às suas necessidades específicas e ao contexto em que operam.

* Gleice Rodrigues é Doutora em Recursos Florestais e Pesquisadora de Metodologia e Sustentabilidade na DEEP 

Referências

IPCC (2014). Mudanças Climáticas 2014: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade. Parte B: Aspectos Regionais. Contribuição do Grupo de Trabalho II ao Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima. Cambridge University Press, 2014. Disponível em: https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2018/03/ar5_wg2_spmport-1.pdf. Acesso em: 20 set. 2023.

IPCC (2022). Climate Change 2022: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [H.-O. Pörtner, D.C. Roberts, M. Tignor, E.S. Poloczanska, K. Mintenbeck, A. Alegría, M. Craig, S. Langsdorf, S. Löschke, V. Möller, A. Okem, B. Rama (eds.)]. 100 Cambridge University Press. Cambridge University Press, Cambridge, UK and New York, NY, USA, 3056 pp., doi:10.1017/9781009325844.

TCFD (2023).  Recommendations of the Task Force on Climate-related Financial Disclosures. Disponível em: https://assets.bbhub.io/company/sites/60/2020/10/FINAL-2017-TCFD-Report-11052018.pdf. Acesso em: 18 jul. 2024.

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