Com vasta experiência em desenvolvimento de produtos financeiros, gestão de riscos e governança, e uma trajetória marcada por participação em conselhos e posições de liderança em organizações e instituições financeiras, como Merrill Lynch, J.P. Morgan, Standard Bank e Banco Fibra, Andrea Menezes atualmente preside o Conselho de Administração da Lojas Marisa. Investidora e Conselheira independente da DEEP, reservou um espaço na agenda para conceder essa entrevista exclusiva para o blog da DEEP.
Como você avalia o avanço das empresas e das instituições financeiras na jornada de sustentabilidade?
AM: Na minha opinião, existem dois mundos bastante distintos nesse tema: o das instituições financeiras e o corporativo. As instituições financeiras são regidas por órgãos reguladores que as obrigam a ter governança, gestão de risco e controle. Essas exigências regulatórias acabam por conscientizar e educar as instituições financeiras sobre a importância de integrar a sustentabilidade em suas operações.
Isso é algo inerente à atividade de toda e qualquer instituição financeira, mesmo as definidas como S4 e S5 (bancos e instituições não bancárias com tamanho inferior a 0,1% do PIB), que mesmo diante de dificuldades, precisam cumprir as exigências regulatórias.
Já as empresas listadas têm um regulador mais brando no tocante às práticas ambientais solicitando a prática do “Pratique ou Explique”, ou seja, você não tem obrigação regulatória mas é indicado que siga boas práticas de governança. Se não faz, conte por que.
Essas exigências dizem respeito à governança. E sobre responsabilidade socioambiental?
AM: A partir de 2014, aumenta a demanda sobre as instituições em relação a políticas de responsabilidade socioambiental e climática. Sem dúvida, as resoluções do Banco Central que antes tratavam de riscos em uma perspectiva de liquidez, crédito e capital, passam a considerar também para a gestão dos riscos socioambientais e climáticos. E isso envolve cada vez mais calcular as emissões financiadas, ou seja, os riscos associados às atividades dos clientes das instituições financeiras.
Em relação às empresas, como está a evolução?
AM: No mundo corporativo, vejo a CVM com um papel educador. Ainda estamos numa dinâmica de “Pratique ou Explique”. Acredito que esse processo será acelerado nas empresas no curto prazo justamente pelos bancos, na hora de conceder crédito. O verdadeiro impacto da governança ambiental e social nas empresas vai acontecer a partir de 2026, quando elas passarão a ser diretamente impactadas pelas exigências das novas normas IFRS S1 e S2. É muito importante que elas aproveitem esse prazo para se adaptar às mudanças. Tomara que estejam se preparando!
E quanto ao papel dos indivíduos na mudança para práticas mais sustentáveis?
AM: Os indivíduos têm um papel enorme. Nós temos o poder de influenciar as empresas e o mercado com nossas escolhas de consumo. Por exemplo, podemos optar por produtos de empresas que adotam práticas sustentáveis ou decidir compensar as emissões de carbono de nossas viagens. No entanto, muitas vezes, não exercemos esse poder, esperando que apenas as empresas ou governos tomem a iniciativa. É fundamental que todos – governos, empresas e indivíduos – façamos nossa parte agora.