Com histórico de quase 40 anos de atuação em setores como energia, química, petróleo e gás, Marcus Temke é atualmente VP Engineering and Projects da canadense Carbon Engineering. Tem experiência na estruturação, implementação e operação de projetos/ativos industriais multibilionários em empresas brasileiras e multinacionais, como Degussa, Evonik, Sandoz, Ciba-Geigy, Clariant e Steag Energy Services.
Com formação em Engenharia Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcus cursou MBA pelo Coppead – UFRJ e já atuou em países como Alemanha e Suíça.
“Estamos numa fase em que reduzir o efeito estufa deixou de ser um desafio para se tornar um imperativo. O ecossistema não consegue mais capturar tudo que está sendo emitido. A concentração de CO² está aumentando – saiu de 350 partes por milhão antes da revolução industrial e agora já está em 420, levando as temperaturas médias no planeta a se elevarem num ritmo acelerado”, afirma.
– Quando você acredita que o mundo percebeu mais claramente a urgência de prevenir e combater a emissão de CO²?
Creio que no Acordo de Paris, assinado por 195 países em 2015. Foi um compromisso mundial, formal, para a redução da emissão de gases de efeito estufa. Sem dúvida, funcionou como divisor de águas. Os signatários passaram a ter a obrigação de prestar conta de suas práticas e avanços diante de outras nações. Mas ainda não dá para dizer que o ritmo com que as mudanças estão ocorrendo seja satisfatório. Ainda faltam planejamento, metas e ações objetivas.
– Você acredita que o mundo vai conseguir zerar ou compensar todas as emissões e alcançar NetZero até 2050?
Muitos especialistas, empresas e até governos focam em reduzir emissões, o que é correto. Mas para chegar no Net Zero também é necessário remover o CO2 que continua sendo emitido naquelas atividades que não sabemos descarbonizar – são as emissões residuais. Digamos que há um passivo, que não vai sumir na velocidade que precisamos por conta própria. Para chegar lá em 2050 precisamos planejar como vamos reduzir e remover, definir metas intermediárias, acompanhar e ir ajustando o planejamento. É a melhor estratégia para setores que não têm alternativa de suspender, abruptamente, a produção de certos materiais poluentes. Estamos avançando na redução das emissões, mas ainda precisamos olhar a remoção com mais atenção.
– Por que isso acontece?
Puristas pensam que, se a indústria investir em remoção, negligenciará a suspensão da emissão. Também há os que acham que dá para dissociar uma estratégia da outra. Até 2040, cuidam de reduzir a emissão e, a partir daí, removem o que estiver no meio ambiente. Precisamos agir rapidamente nas duas direções ou correremos o risco de inviabilizar o processo.
– E já temos tecnologia para lidar com o desafio?
Sim, nos últimos anos ampliamos enormemente o uso de tecnologias como a captura e armazenamento geológico do carbono. Como eu disse anteriormente, apenas a depuração natural, feita pela floresta e pelos oceanos, não dará conta de remover o CO2 da atmosfera.
– Como funciona o trabalho de captura de gases feito pela Carbon Engineering?
Há 13 anos, estamos desenvolvendo o Direct Air Capture, que captura o dióxido de carbono diretamente da atmosfera e o armazena permanentemente de forma segura. O monitoramento e a mensuração precisa é o que dá credibilidade ao processo junto ao mercado e aos investidores. É preciso um indicador de desempenho para cada equipamento, cada etapa.
A Carbon Engineering está desenvolvendo também um projeto em parceria com a Occidental, no Texas, que produzirá CO2 puro, que será injetado nos poços de petróleo para elevar a produção do óleo (Enhanced Oil Recovery). Com isso, se consegue armazenar de forma segura CO2 retirado da atmosfera, num volume que equivale aproximadamente à quantidade de CO2 que será emitida no uso do óleo produzido, resultando em um petróleo neutro em carbono (carbon neutral oil).
– O processo é mais oneroso que outras técnicas?
Sim, exige mais recursos do que o reflorestamento e outras soluções naturais. Mas é importante que se diga que se trata de uma solução permanente, no longo prazo, não há risco algum de reversão e infinitamente escaláveis. Isso é muito importante! O desafio de captura de gases é muito grande e, por isso, são necessárias soluções rápidas, em escala de bilhões de toneladas de CO2. Os custos estão em trajetória descendente e os incentivos, crescendo.
O Green Premium – custo adicional associado a soluções verdes – tende a ser cada vez menor até se tornar negativo. Nos Estados Unidos, essa conta já está fechando.
O Brasil tem um pipeline muito interessante de projetos de energia renovável, mas ainda precisa criar as condições para viabilizar estes projetos.