Mulheres de Impacto: Nádia Pontes 

Jornalista multimídia especializada em meio ambiente e ciência premiada pelo Berlin Science Communication Awards e pela Mostra Internacional VerCiência (por “Futurando”, da Deutsche Welle) e pelo IMPA; correspondente da Deutsche Welle e colaboradora de veículos de comunicação nacionais e internacionais; Mestre em Ciência Ambiental pela USP. Esta é Nádia Pontes, nossa segunda personalidade entrevistada na série “Mulheres de Impacto”.  

Em que ponto da sua trajetória, você decidiu que iria se dedicar a temas ligados a Sustentabilidade e os desafios das mudanças climáticas? 

Este ano, completo 20 anos de carreira. Em 2003, me formei como jornalista pela UNESP e logo comecei a trabalhar. Na TV Vanguarda, em 2007, tive a oportunidade de participar da produção de um documentário sobre mudanças climáticas – “Terra: Vida ou Morte”. Minha função era produzir a parte internacional do documentário. Viajamos para oito países para filmar; no meu trabalho de pesquisa, entendi que o grande desafio da minha geração – e também das próximas gerações – é lidar com as mudanças climáticas, com o impacto das nossas ações e com a adaptação a uma nova realidade. Começamos pelos Estados Unidos, especificamente na Califórnia, que era o único estado que já tinha leis regionais,  demonstrando uma preocupação real com o tema. Na época, o Obama estava em campanha e o presidente era George W. Bush. De lá, fomos para a Inglaterra, onde a Revolução Industrial começou, e seguimos para a França, a Espanha e a Alemanha. Nesses países, começamos a encontrar soluções efetivas – mostramos Freiburg, que começou a revolução da energia solar; sistemas de geração descentralizada de energia; e um carro movido a hidrogênio na BMW. Isso tudo em 2008! Essa experiência mudou a minha vida para sempre! Entendi que este seria o meu tema a partir dali. 

Como foi a sua entrada na Deutsche Welle? 

Eu sempre tive vontade de ir para a Alemanha. Para ser sincera, nem sei porquê. Cresci ouvindo que meus antepassados vieram de lá, mas não sei se foi por isso – a família do meu pai veio do Nordeste, da Paraíba. Então, realmente não sei se esse vínculo existe. Mas, fato é que eu  sempre escrevia para a Deutsche Welle, perguntando se eles me receberiam para um estágio. Depois de quase cinco anos trocando emails com eles, fui finalmente convidada para ir para lá. Foram três meses de estágio em 2009, em Bonn. No último dia desse período inicial, fui convidada a continuar por lá. O que mais me impressionou nos alemães foi a forma como eles realmente levavam a sério a preocupação com ciência, sustentabilidade e adaptação às mudanças climáticas. 

Quando e por que você voltou ao Brasil? E o Mestrado em Ciência Ambiental?  

Vim de volta da Alemanha no fim de 2014, por questões familiares. Resolvi fazer o mestrado em Ciência Ambiental na USP porque queria contribuir mais, não só noticiando o que estava sendo feito, mas participando da mudança. Minha tese de conclusão foi sobre a Transposição do Rio São Francisco, vista como uma medida de adaptação às mudanças climáticas para as populações mais vulneráveis no Semiárido. No fim, eu vi que a ciência precisa muito de comunicação! É muito importante estar em campo, ouvir as comunidades, chegar perto de quem enfrenta os desafios. 

Como foi a série de programas para a Deutsche Welle que você fez na Amazônia? 

Desde que eu voltei ao Brasil, costumo ir muito à Amazônia. Ao longo da minha caminhada, sempre ouvi e percebi que as mulheres pesquisadoras precisam fazer dez, 20, 100 vezes mais que um parceiro pesquisador para chegar a um patamar quase equivalente. Infelizmente, ainda existe uma questão de gênero muito forte. Então, quando eu estava gestando a minha filha, tive a ideia de reunir numa série, histórias de mulheres pesquisadoras que contribuem para o avanço da ciência e do conhecimento que nós temos sobre a Amazônia. A Deutsche Welle aprovou e eu fiquei quatro meses pesquisando, lendo e falando com cientistas. Cada cientista me indicava outras cientistas que tinham participado de projetos chave para a região, como, por exemplo, o primeiro experimento na Amazônia que investigou a influência da floresta no clima regional e no clima mundial. 

Quais foram os desafios para viabilizar a série com “As Cientistas da Amazônia”? 

A parte da logística foi muito desafiadora. No fim, conseguimos encaixar todas as pesquisadoras numa única viagem. Meu marido tirou férias e levamos a nossa filha, na época com 10 meses, para a Amazônia. Estávamos no fim de 2021, num momento de ascensão da pandemia de novo. Tivemos Covid, nos recuperamos, testamos negativo… Foi tudo no momento certo! No fim de janeiro de 2022, passamos doze dias gravando. Teve choro de neném no fundo, paradas para amamentar… Foi uma experiência incrível, muito emocionante. Entrevistei mulheres de diversas faixas etárias, dos 30 aos 70 anos. Me preocupei também com essa diversidade de idade e experiência. Também procurei incluir mulheres que estão na Amazônia e outras que contribuem para a produção de todo esse conhecimento e seguem por aqui, no Sudeste.  

Como foi o lançamento da série? 

A ideia era colocar o especial no ar no Dia das Mulheres do ano passado. Só que, no fim de fevereiro, estourou a Guerra na Ucrânia. Esperamos até o meio do ano para colocar os episódios no ar. A série foi uma experiência sensacional para nós e acredito que também tenha sido muito importante para as mulheres que fazem ciência – tanto para as que estão retratadas lá quanto para todas que espero que tenham se sentido representadas. Recebi muitos feedbacks de mulheres e até de grandes pesquisadores como Carlos Nobre, que, assim que assistia um episódio, me mandava seus comentários. No fim do ano, o IMPA concedeu o prêmio de melhor trabalho de divulgação científica para esta série. Foi muito marcante! Senti que era uma missão reunir de uma maneira organizada, numa narrativa, essas mulheres e o seu trabalho. 

Qual é a sua visão sobre os desafios atuais de mensuração de impactos e de geração de dados confiáveis e comparáveis, que são o ponto central da atuação da DEEP? 

Preciso dizer que vejo o que a DEEP faz como algo pioneiro. Quando tive contato com essa tecnologia, com a metodologia que eles desenvolveram, achei incrível, porque a DEEP tornou quase impossível esconder ou distorcer as suas emissões. Se não quer fazer greenwashing, precisa se apoiar em uma solução assim. 

Quais são suas expectativas para o futuro? 

Desde que eu comecei essa jornada, em 2008, vejo que houve muito avanço. A redução de emissões entrou de vez em discussões sobre políticas públicas e também nas organizações, que vêm firmando compromissos sérios nessa direção. Claro que ainda existe essa lacuna de mensuração, de validação dos dados, que empresas como a DEEP tentam suprir. 

Sinto que o mercado cobrará mais confiabilidade nas informações. As empresas só vão de fato fazer as mudanças de que elas realmente precisam com a cobrança do mercado, dos consumidores, dos investidores… Essa força é vital para que as mudanças, que são urgentes, aconteçam. Não temos mais tempo! 

 

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