Por David Muñoz Blanco *
Até junho, eu estava na Europa. Agora, estou no Brasil. Vim de mala e cuia, como se fala por aqui. Cheguei para ficar! A minha mudança e adaptação à nova realidade no Brasil aconteceu muito mais rápido do que eu imaginava. Ao falar sobre a minha vinda para cá com um empresário brasileiro, ele brincou: “Não é só você que chegou no Brasil, amigo! As exigências regulatórias europeias ligadas à Sustentabilidade chegaram por aqui muito mais rapidamente do que nós imaginávamos também!”.
Ele está certo! As distâncias diminuíram, e o impacto das mudanças nas regras europeias já afeta muitas companhias brasileiras. Esse é o caso de muitos de nossos clientes atuais e projetos novos, nos quais a preocupação com as pressões e a agenda ESG já resultou num plano de ação liderado pelas próprias diretorias e comitês, independentemente do setor e do porte da empresa.
A Diretiva Europeia sobre Reporting Corporativo de Sustentabilidade (CSRD) é muito abrangente, e exige que as empresas que atuam na Europa forneçam dados detalhados sobre os impactos das suas operações. Inicialmente, essas regulamentações eram dirigidas apenas às empresas listadas na União Europeia (UE). Aos poucos, estão se expandindo a toda e qualquer empresa que tenha uma interface com empresas ligadas à UE.
As empresas brasileiras estão começando a perceber que não se trata apenas de uma questão europeia, mas de uma mudança global, que está reformulando os padrões de conformidade e sustentabilidade. Empresas que fazem parte da cadeia de fornecimento de corporações europeias ou que têm filiais no Brasil já estão sentindo a pressão de se adequar às exigências de suas matrizes europeias.
Exportadoras
Para empresas brasileiras que exportam para a Europa, as exigências de conformidade com a CSRD e o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) são inevitáveis. Essas empresas devem fornecer inventários detalhados de suas emissões e práticas sustentáveis. O cliente europeu exige essa transparência para cumprir suas próprias obrigações regulatórias, o que significa que qualquer empresa na cadeia de fornecimento deve estar preparada para fornecer esses dados.
Filiais de empresas europeias
As filiais brasileiras de empresas europeias são diretamente afetadas pelas regulamentações da CSRD. Elas devem fornecer dados primários detalhados sobre suas operações para que suas matrizes possam cumprir as regulamentações europeias.
Estamos lidando com vários exemplos de empresas brasileiras ligadas a grupos europeus. As exigências regulatórias estão sofrendo um efeito cascata sobre as filiais brasileiras, que são responsáveis não só pelas informações e relatórios, mas também pelos planos de ação e descarbonização referentes aos resultados dos cálculos.
CSRD e CS3D
Duas regulamentações importantes a serem consideradas são a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive) e a CS3D (Corporate Sustainability Due Diligence Directive). A CSRD exige que as empresas divulguem informações detalhadas sobre suas práticas de sustentabilidade, enquanto a CS3D foca na devida diligência corporativa em relação a impactos ambientais e sociais na cadeia de fornecimento, como o combate ao trabalho infantil ou análogo à escravidão.
Tipos de Auditoria
As empresas brasileiras não estão sendo demandadas apenas a fornecer dados mais detalhados e precisos sobre suas operações, mas também a auditar e assegurar esses dados. Existem dois tipos principais de auditoria: asseguração limitada e asseguração responsável. Inicialmente a asseguração requerida é a limitada que envolve um número considerável de testes e verificações dos dados e processos; num segundo momento, está prevista a asseguração responsável, que exige uma revisão completa e detalhada de todos os processos e dados da empresa.
Conclusão
Muitas empresas brasileiras já estão adaptadas ou se adaptando não só por conformidade, mas também como forma de construir uma vantagem competitiva comercial e estratégica significativa. Empresas que conseguem fornecer dados precisos e detalhados sobre suas operações são mais valorizadas, mais alinhadas com as exigências da sua cadeia de valor e dos seus clientes, têm acesso a crédito mais barato e estão mais bem posicionadas para competir no mercado global.
A oportunidade está ao alcance de quem estiver pronto para agir agora. E nós, da DEEP, estamos à disposição para apoiar você nesta jornada.
E veja também: CSRD: legislação criteriosa para um futuro de empresas sustentáveis
* David Muñoz Blanco é um consultor da DEEP com vasta experiência em relatórios financeiros e de sustentabilidade junto a grandes consultorias e corporações na União Europeia, Américas do Sul e do Norte e África.