Emissões de metano e carbono na pecuária: país busca alternativas

O Brasil foi um dos mais de 100 países signatários de dois documentos em que se comprometem em deter o desflorestamento e reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, na COP 26, em Glasgow, na Escócia.  O país está colocado entre os cinco países mais emissores de gases de efeito estufa do planeta, dentre os quais um dos mais nocivos ao clima global: o metano. E mais de 71% destes gases, no Brasil, são produzidos pela pecuária – um dos carros-chefes da exportação brasileira.

Mesmo antes da assinatura dos acordos, o  Brasil já vinha trabalhando, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Brasileira (Embrapa), em meios de redução da produção do metano na pecuária, que se dá, principalmente, no trato digestivo do gado bovino e é expelido pelas narinas e pela boca do animal.

Os pesquisadores da Embrapa vêm estudando combater este problema a partir da alimentação do gado, incentivando uma alimentação mais nutritiva, com capim, grãos, rações enriquecidas com milho, soja e até algas, reduzindo a fermentação no trato digestivo dos animais e, consequentemente, a emissão de gás metano.

“É importante que a gente melhore sempre a nutrição dos animais porque isso vai contribuir de duas formas para as emissões de metano especialmente. Um alimento de melhor qualidade, ele é mais digestível, tem uma digestão melhor e emite menos metano por causa disso. E ao ser um alimento mais nutritivo, ele também permite o encurtamento do ciclo de produção, evitando que o animal emita gases enquanto não está crescendo, por exemplo”, disse o pesquisador Alexandre Berndt à Rede Globo, recentemente.

Entretanto, a empresa tem outras linhas de pesquisa para a solução deste problema.  Em boletim do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), da Embrapa, Sérgio Raposo de Medeiros, pesquisador em Nutrição Animal pela Embrapa Pecuária Sudeste, descreve estudo com o uso de aditivos na alimentação do rebanho. Segundo o estudo, há bom potencial para reduzir as emissões de CH4, ao mesmo tempo que se aumenta a eficiência na conversão de alimento em ganho de peso e, portanto, na rentabilidade da atividade.

“Aditivos que alteram a biota ruminal podem reduzir a produção de metano. Os ionóforos são os aditivos mais utilizados com este fim, tendo mais de 40 anos de uso no Brasil e no mundo”, diz o informativo.

Ocorre que há, segundo o boletim, uma crescente relutância da sociedade com o uso de aditivos antibióticos, como os ionóforos e a virginiamicina, pelo risco de resistência cruzada. E a legislação brasileira não permite o uso de dois ou mais antibióticos. A Comunidade Europeia, por exemplo, não aceita o uso de antibióticos como aditivos alimentares, apesar de o uso preventivo em defesa da saúde do animal ser autorizado.

Novos estudos

Ao mesmo tempo em que assegura que a legislação brasileira não mudou, quanto ao uso de aditivos antibióticos, Medeiros informou à DEEP que, ainda nesta sexta-feira (11/02), em uma banca de doutorado da FZEA/USP, foram apresentados estudos em que foram testados três aditivos em associação.

“Um deles era antibiótico (monensina), o outro, uma mistura de óleos essenciais, e o terceiro, enzimas. Não foi obtida redução da emissão, mas é bom lembrar que isso é apenas um estudo e que os resultados são variados. Os ionóforos, como a monensina e outros, que são antibióticos, têm os resultados mais robustos de redução, ou seja, são eficazes na maioria das situações, porém há trabalhos que mostram que o efeito não persiste no tempo”, descreveu o pesquisador.

A alternativa da compensação

Mesmo com as soluções propostas para a redução da emissão de metano na pecuária, estas não são suficientes para zerar as emissões do gás. Neste sentido, a Embrapa propõe que as emissões de metano não evitáveis sejam compensadas com a redução de emissão de carbono, por meio dos sistemas integrados Lavoura, Pecuária e Floresta (LPF) para contribuir com as metas de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), por exemplo.

Weber Amaral, PhD pela Universidade de Harvard e professor na Esalq da Universidade de São Paulo e Conselheiro da DEEP, alerta que o tema das emissões na agricultura é extremamente complexo, já que é multifatorial.

“A primeira coisa que precisa ser entendida são as mudanças no uso do solo, uma questão associada ao desmatamento. Mexendo no uso do solo, que pode ser um reservatório imenso de CO2, mas, também, pode ser uma fonte gigante. As variações de carbono no solo podem ser de 2 ton, a 30 ton. O que causa esta amplitude é a nutrição do solo, cobertura vegetal, o manejo que se dá ao solo”.

Neste aspecto Weber destaca o trabalho da Embrapa, que coordena uma rede que demonstra que a integração LPF contribui para fixar carbono no solo.

“Resumindo”, diz Amaral, “o Brasil assinou um protocolo em Glasgow, em que se compromete com as emissões de metano. Então é preciso medir. Por outro lado, o mercado está sedento por bons projetos de carbono e a maior parte dos projetos a um custo baixo vem do agronegócio”.

O professor destaca a oportunidade de que haja uma ação concertada da Embrapa, empresas como a DEEP, organizações de pesquisa, empresas, no sentido de que esta oportunidade não caia no vazio.

“A gente precisa trazer transparência, ter compliance, comparatividade, que só se conseguem com boas métricas de ESG”, conclui.

A DEEP ESG segue acompanhando o desenrolar destas pesquisas e voltará ao assunto em breve. Acompanhe!

 

Fontes adicionais:

https://www.fao.org/gleam/results/en/

https://www.ucdavis.edu/food/news/making-cattle-more-sustainable

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