O “S” (social) do ESG avança na agenda estratégica das empresas brasileiras

O crescente interesse dos investidores por práticas socioambientais seguras e responsáveis tem impulsionado as empresas brasileiras a investirem cada vez mais na agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa). 

Os líderes empresariais estão mais engajados nessa agenda, reconhecendo o papel do mercado financeiro em impulsionar a sustentabilidade a longo prazo. À medida que as empresas melhoram sua gestão e transparência, os investidores podem avaliar os investimentos com maior precisão e direcionar o capital para negócios sustentáveis, trazendo benefícios claros para os stakeholders e a sociedade em geral.

No entanto, a maioria dos gestores financeiros que adota fatores ESG em suas análises de investimentos usa a sustentabilidade e os riscos climáticos das empresas como principais critérios na hora de tomar decisões. Mas e o S, a dimensão social do impacto corporativo?

Dimensionar o impacto social é um desafio! 

Em 2021, o relatório da ESG Global Survey concluiu: “Dados são mais difíceis de obter e há enorme falta de padronização no que diz respeito às métricas sociais… Investidores mostram-se dispostos a aceitar informações que pouco ajudam na avaliação do desempenho social das empresas nas quais investem”. Para a maioria dos investidores, o S não passa de um campo que deve ser ticado.

Um levantamento da Bravo Research feito este ano com 116 empresas de capital aberto listadas no ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial, da B3, para o Investimento Social Privado (ISP), revelou que 91% das empresas analisadas alocam até 1% de sua receita bruta em investimento social. 

Embora pareça pouco, devido ao tamanho dessas empresas, os investimentos para fins sociais já totalizam R$ 14,6 bilhões. O ISP corresponde à mobilização de recursos privados para fins públicos, realizada de forma planejada para iniciativas sociais, ambientais, culturais e científicas de interesse público. 

 

O levantamento da Bravo Research se concentrou principalmente nos dados do Investimento Social Privado (ISP), que é uma das poucas informações consolidadas no mercado brasileiro.  “Com o amadurecimento do mercado, a tendência é que novas metodologias sejam desenvolvidas a fim de padronizar, classificar e quantificar os investimentos em ESG, e os resultados, de forma mais transparente. Para que os investimentos em treinamentos, capacitação, implementação de tecnologias e melhorias na gestão sejam mensuráveis financeiramente, é necessário que as empresas os exponham de forma clara e transparente”, diz Suelen Silva, head de Research da Bravo.

Embora as metas de neutralidade de carbono avance mais rapidamente, com o compromisso de cerca de um quinto das maiores empresas de capital aberto do mundo, é crucial também melhorar a qualidade de vida das pessoas em nosso planeta.   

Alguns impactos sociais estão se tornando relevantes para todas as empresas, e ainda podem e devem evoluir ao longo do tempo, acompanhando dinâmicas sociais e políticas. Esses "fatores de impacto social" incluem:

  • Saúde pública e seus determinantes sociais: a pandemia de Covid-19 destacou como uma crise de saúde pública pode afetar todos os setores e negócios. A resposta das empresas às necessidades de saúde pública tem um impacto significativo em seu sucesso e sobrevivência. O cuidado com as questões de saúde é relevante para todas as empresas, pois afeta a produtividade e o bem-estar dos colaboradores e, de uma forma mais ampla, da população como um todo. 

  • Diversidade e inclusão: além de riscos reputacionais, as empresas vêm demonstrando atenção crescente a ações envolvendo inclusão, combate ao racismo e qualquer forma de preconceito e acesso equitativo a oportunidades. Isso tem implicações nas práticas de RH, imagem corporativa, vendas e parcerias comerciais, desempenho dos colaboradores e posicionamento competitivo.

  • Desigualdade de renda x inclusão financeira: um grande número de pessoas em todo o mundo vive com baixa renda. Para crescer e prosperar, as empresas devem encontrar maneiras de expandir o alcance da sua atuação, de forma a melhorar as condições de vida dessas populações marginalizadas e incluí-las na economia. 

  • Desenvolvimento da força de trabalho: a diversificação de talentos é crucial para todas as indústrias e empresas. É um impacto social positivo e uma barreira essencial para o crescimento dos negócios. Investir no desenvolvimento da força de trabalho, especialmente incluindo populações carentes, tem um impacto direto no crescimento da maioria das empresas e da sociedade como um todo.

É hora de elevar o nível de atenção a impacto social, fornecer dados mais robustos sobre questões sociais e oferecer ao mercado informações que possam ser quantificadas em seus modelos. A gestão efetiva requer medição adequada.  Devemos avançar além da neutralidade de carbono e buscar o impacto líquido também na área social, considerando os efeitos positivos na vida das pessoas como um todo.

 

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