O grande desafio da adoção de comunicação de ESG (Environmental, Social and Governance) está na adoção de parâmetros comparáveis entre empresas e organizações que garantam auditabilidade e comparabilidade e, por consequência, credibilidade, o que agrega valor ao empreendimento, frente aos consumidores e investidores.
Em um primeiro passo em direção à consolidação de padrões globais de mensuração de impactos em ESG, a International Integrated Reporting Council (IIRC) – uma aliança internacional de reguladores, investidores, empresas, organismos de normalização, profissionais de contabilidade e ONGs – e o Sustainability Accounting Standards Board (SASB) anunciaram em novembro de 2020, a fusão das duas organizações de modo a unificar standards, após meses de discussão entre os diversos players mundo afora.
“A informação é a força vital de uma boa tomada de decisão. Os mercados de capitais estão famintos por informações vinculadas à criação de valor empresarial, mas não conseguem digerir facilmente o que vem de um cenário fragmentado de relatórios”, diz Robert K. Steel, presidente do Conselho de Administração da SASB Foundation, em comunicado sobre a fusão de parâmetros de sustentabilidade sob a égide da Value Reporting Foundation, criada em meados do ano passado.
“Esta fusão é um passo importante para que empresas e investidores se comuniquem com clareza e facilidade sobre as questões que mais importam para o desempenho financeiro”, declarou Charles Tilley, CEO do IIRC.
Mas chegar a estes padrões globais impõe desafios para os próximos anos e uma ampla necessidade de divulgação para o mercado. Os diversos atores que, agora, decidem unificar padrões de resultados, impacto e sustentabilidade, precisarão aprofundar em suas abordagens, dada a gama de objetivos, em certa medida, também diversos.
“A fusão avançará com o trabalho do CDP, CDSB, GRI, IIRC e SASB nas discussões que constam da Declaração de Intenção de Trabalhar Juntos para o Relatório Corporativo Abrangente, de setembro de 2020, que descreve uma visão para um sistema abrangente de relatórios corporativos. Ao integrar o IIRC e o SASB – duas entidades que permitem a criação de valor empresarial – esta fusão demonstra um impulso para simplificar o cenário de relatórios corporativos. A Value Reporting Foundation, criada no âmbito desta fusão, poderá, eventualmente, integrar outras entidades focadas na criação de valor empresarial, e a Fundação e o CDSB sinalizaram conjuntamente interesse em iniciar discussões exploratórias nos próximos meses”, diz o comunicado. Essa foi uma sinalização clara de que o mercado demanda uma mudança.
Marcella Ungaretti, sócia e chefe de pesquisa ESG da XP Inc., acredita que a agenda ESG ainda carece de um padrão global único e lembra que somente 23% das bolsas ao redor do mundo obrigam a divulgação de um documento ESG.
“Vemos que existem potenciais desafios advindos dos grandes esforços que serão necessários para as instituições para que os devidas divulgações (disclosures) de dados ESG sejam realizados, ao mesmo tempo que reconhecemos essa evolução como necessária. Nesse sentido, ressaltamos que é preciso tempo para que as empresas se adaptem às novas regulações e padrões, uma vez que, quando se trata da temática ESG, não existe uma bala de prata, mas sim, esforços por parte de todos os agentes durante a evolução nessa jornada, na qual cada instituição está em um estágio”, disse Marcella à redação da DEEP.
Ainda assim, Ungaretti vê esta evolução como necessária.
“Em nossa visão”, acrescenta, “acreditamos que as mudanças impostas pelas regulamentações e novos padrões estão e terão, cada vez mais, um papel importante e central no direcionamento das instituições para melhores práticas ESG.
Vemos a falta da divulgação de dados e métricas ESG como um dos principais desafios da agenda ESG, atualmente, e reconhecemos de forma positiva esse movimento rumo à unificação de padrões. No Brasil, em 2021, já vimos movimentos por parte dos agentes do mercado no sentido de utilizarem iniciativas reconhecidas internacionalmente, movimento este que vemos como importante, necessário e esperamos que somente acelere adiante”, conclui.
Discussões de universalização e unificação avançam para padrões ISSB
Investidores internacionais com carteiras de investimento globais estão, cada vez mais, exigindo relatórios de alta qualidade, transparentes, confiáveis e comparáveis das empresas sobre clima e outros assuntos ambientais, sociais e de governança (ESG).
Como resultado das discussões sobre a unificação de parâmetros de ESG, os curadores da Fundação IFRS anunciaram, durante a COP 26, a criação de um novo board de definição de padrões – o International Sustainability Standards Board (ISSB) – para ajudar a atender a essa demanda. Trata-se de um processo em construção que deve agregar valor aos padrões da prática de ESG globalmente. Os avanços produzidos até o momento apontam, cada vez mais, para a importância que os próprios atores, interessados nesta comunicação, enxergam para que os compromissos globais sejam assumidos.
“Este é um momento particularmente oportuno para discutir onde estamos e para onde caminhamos no que diz respeito à divulgação de informações sobre ESG. Com o anúncio da criação do International Sustainability Standards Board – ISSB, no dia 3 de novembro de 2021, por ocasião da COP26, realizada em Glasgow, com o apoio do G20, IOSCO (International Organization of Securities Commissions), e FSB (Financial Stability Board), entre outros, a expectativa é de que vamos avançar para o estabelecimento de padrões globais de divulgação que promovam consistência, comparabilidade e transparência”, declarou Amaro Gomes, Mestre em Contabilidade e Finanças pela Lancaster University (Reino Unido) e conselheiro da DEEP.
Em webinar sobre o tema, Amaro destacou a importância de o país e das empresas brasileiras avançarem no andamento de tarefas como integração de estratégia, gestão de risco, desenvolvimento de sistemas, entre outras, pois os standards do ISSB ainda vão demorar alguns anos e a tarefa de lidar com o risco climático e com as questões sociais é difícil. Merece atenção o desafio de desenvolver uma maneira de integrar os relatórios financeiros e de ESG, capturando e tratando dados ESG de maneira que saiam do espectro qualitativo e tenham impacto quantitativo e mais estratégico na vida das empresas.
“É patente a importância do desenvolvimento e adoção da regulação e padronização da divulgação de informações sobre ESG e o quão benéfico este movimento é para o mercado, para a sociedade e para o planeta. A discussão é urgente e ainda há um longo caminho para percorrer, mas grandes passos já estão sendo dados”, disse Gomes.
A DEEP acompanhará todo este processo. Em breve traremos novos insights sobre o que estará por vir como resultado deste processo da universalização.