Cientistas da DEEP
Entrevista: Ernesto Marujo
A DEEP tem hoje na sua equipe 15 mestres, doutores, PhDs e profissionais que atuam diretamente com trabalho científico e Pesquisa & Desenvolvimento.
Para abrir a série de “Cientistas da DEEP”, convidamos Ernesto Marujo, Head de P&D da DEEP. Professor do ITA por 40 anos, é especialista em Pesquisa Operacional, Otimização e Risco, e executivo do instituto no programa de cooperação ITA-MIT.
Como começou e de onde vem sua relação com a DEEP?
Conheci o Arthur no ITA, quando era seu professor. Ele já tinha fundado, junto com o Paulo, a DEEP e a equipe estava debruçada sobre o desafio de calcular a confiança de estimativas de fatores de emissão. Ele supôs que a adoção de uma fórmula simples poderia dar conta do recado, mas mostrei que a fórmula era muito mais complicada. A boa notícia foi que o resultado superou minhas expectativas. Naquele momento, tive a oportunidade de demonstrar que a confiabilidade dos cálculos de impacto feitos pela DEEP já era maior do que eles próprios haviam imaginado.
E como isso foi demonstrado?
A partir de alguns conceitos clássicos de estatística que haviam me chamado a atenção, quando dei consultoria na área financeira. É interessante porque tem algumas lições que o mercado financeiro traz e que aplicamos em outras áreas. Um exemplo é a “teoria do portfólio”. Todo mundo que mexe com aplicações sabe que é preciso diversificar os investimentos. Acontece que, quando você investe em dois títulos que são correlacionados – ou seja, quando um aumenta, o outro também aumenta – a amplitude da variação é muito grande, mesmo se você tiver uma grande diversidade de títulos desse tipo. Então, a ideia é procurar títulos que não tenham uma correlação tão alta ou, se possível, que ela seja até negativa – movimentos opostos.
E o que acontecia no caso da DEEP é que nós estávamos pegando informações que tinham baixíssima correlação entre si, de forma que a incerteza da média era bem menor do que a média das incertezas. Em outras palavras, as incertezas se compensavam e às vezes era possível até zerá-las.
Este trabalho da DEEP de redução de incertezas já foi publicado em uma revista científica, certo?
Sim. Foi na revista Carbon Management. Um outro, que vai ser publicado agora na revista Sustainability, mostra um caso prático em que a emissão de um determinado processo industrial é calculada pelo produto de vários parâmetros. Então, pegamos a vazão, multiplicamos por um coeficiente que depende da temperatura, por outro que depende do tempo usado na produção etc. Cada um desses coeficientes está sujeito a uma imprecisão. No início, pensávamos que o desafio seria apenas identificar a confiabilidade do impacto, mas percebemos que, dependendo das condições, não era uma questão apenas de confiabilidade. O próprio valor da média mudava!
A conclusão foi de que, do ponto de vista matemático, o cálculo de impacto que tem multiplicação de coeficientes é bem mais complexo do que aquele que é dado por uma soma. Foi um trabalho muito importante, muito interessante.
E o cálculo dos impactos sociais? Em que ponto está?
Isso aí é o futuro. Nos meus trabalhos anteriores, fazia avaliação de projetos em geral. Começava com avaliação econômica/financeira e dos impactos ambientais. Então, os economistas propuseram várias maneiras de lidar com isso, normalmente por análises de externalidades, que acabavam virando notas de rodapé. “Esse projeto é quase igual ao outro, mas como gera mais empregos, tem uma avaliação melhor”.
Começaram então a surgir várias fórmulas, propostas para atrelar resultados financeiros a variáveis como geração de emprego. Mas são formulações arbitrárias.
Hoje, o que vemos são metodologias de análises multicriteriais, onde os projetos são considerados em suas várias dimensões: econômica, ambiental e social. Ainda é uma área que está entre a ciência e a arte. Ainda é difícil justificar todos os métodos, critérios e medidas.
O que a DEEP está fazendo hoje em termos de pesquisa?
Estamos começando a avançar na questão da poluição local, que é diferente do impacto global das emissões de CO2. Temos um estudo onde está aparecendo claramente a distinção entre as emissões que afetam o clima global (CO2 e equivalentes) e as que produzem efeito local, como é o caso do enxofre. Em algumas cidades, a dimensão da poluição urbana pode ser pontualmente mais importante do que a dimensão da emissão global.
Quando a gente fala em risco de transição de uma região, onde por exemplo se vive do petróleo, há um risco grande. Quando acabar a produção da indústria de óleo e gás naquela região, a população enfrentará o desemprego. E quais serão as consequências? Existe um aspecto social importante na transição?
Essa é uma das maiores dificuldades dos economistas, dos pensadores de hoje em dia: entender o que vai acontecer com a transição. A indústria do petróleo tem muitos aspectos negativos, mas também tem uma importância muito grande ainda. Não se sabe como e quando o petróleo será substituído e os impactos sociais que essa substituição causará.
Como está estruturada a área de P&D da DEEP hoje?
Temos uma área dedicada ao desenvolvimento da nossa metodologia, que engloba pesquisa e desenvolvimento e possui cinco pessoas dedicadas. Mas, na minha opinião, não é exagero dizer que toda a empresa, de alguma forma, trabalha com inovação e P&D.
A área de tecnologia, por exemplo, desenvolveu recentemente um sistema muito importante baseado em Inteligência Artificial para o DEEP Start. Além disso, tem se dedicado a melhorias na interface com o usuário, no desenvolvimento de novas soluções e aprimoramento das existentes e em diversas otimizações, como as que estão sendo implementadas no DEEP Core, que exige muita ciência da computação e conhecimento de rotinas de bancos de dados.
Outra frente fundamental que está sendo liderada pelo Mauro Zackiewicz é a da evolução dos dados da matriz insumo-produto. Trata-se de um conceito econômico, que conjugado com os dados do inventário nacional de emissões, nos permite estimar a emissão de carbono associada ao consumo de um indivíduo ou de toda uma cadeia de valor.
A partir da matriz insumo-produto, fizemos, junto com o banco BV um estudo sobre os impactos em cada setor da taxação de carbono pelo Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (mercado regulado de carbono).
A área de vendas – nesse sentido, faço um reconhecimento especial ao Carlos Novak – também participa das inovações da DEEP, propondo novas soluções e adaptações aos produtos existentes a partir de insights e demandas vindas do mercado.
Tenho muito orgulho em dizer que, mais do que atuar numa área de P&D, trabalho em uma empresa que reconhece e valoriza a pesquisa e o trabalho cientificamente embasado.